Eucalipto: espécies, clones, mitos e verdades

Eucalipto, uma árvore pertencente a família das Myrtaceae (mirtáceas), espécie exótica com inúmero indivíduos que são naturais da Oceania, principalmente da Austrália e Nova Guiné.

eucalipto
Plantio de eucalipto. Autor: Rudson vieira C

No Brasil, a família das mirtáceas é composta por muitas árvore frutíferas como a Uvaia (Eugenia pyriformis), Pitangueira (Eugenia uniflora), Araça (Psidium cattleianum), Goiabeira (Psidium guajava), Cambuci (Campomanesia phaea), e muitos outros.

As espécies que compões o gênero Eucalyptus spp. são muitas, mas algumas são mais conhecidas, como E. grandis, E. cloeziana, E. dunnii, E. benthamii, E. globulus, E. nitens, E. camaldulensis, E. pellita, E. saligna, E. urophylla, E. tereticornis.

Eucaliptos clonais

Além dessas espécies citadas acima, existe os clones que são normalmente uma determinada espécie melhorada, podendo até mesmo ter componentes de outra, para que torne o individuo clonal mais resistente a algum fator ambiental ou não.

eucalipto clonal
Eucalipto clonal. Foto: reprodução.

Os clones de Eucalyptus sp. normalmente são focados para a produção, podendo ser para celulose, bioenergia ou carvão.

Há plantios comerciais para fins da indústria de moveleira, porém, são menos comuns.

O melhoramento genético do Eucalipto já ocorre a anos e a cada processo as espécies ficam mais resistentes a um determinado fator como secas, geadas, ventos, pragas e doenças.

Veja abaixo os melhores clones contra fatores abióticos (naturais):

Vento

Fatores como o tombamento e quebra por vento podem diminuir a produtividade das florestas plantadas. O fator vento começa a afetar o plantio a partir dos dois anos, podendo ocorrer perdas até o final do ciclo.

Espécies de eucalipto com fibras mais longas e lumens mais estreitos conferem maior resistência a ventos. A topografia do terreno pode influenciar na resistência dos materiais considerando a direção dos ventos.

Estudos realizados comprovam que o E. saligna é uma opção de espécie resistente ao fator vento, e a produção de híbridos entre espécies do gênero Corymbia também pode ser uma importante fonte de resistência, sobretudo nos locais de maior incidência, como o Vale do Rio Doce, em Minas Gerais.

Geadas

Nos últimos anos o melhoramento para ambientes frios tem se tornado cada vez mais importante, isso porque atualmente vem ocorrendo cada vez mais a substituição de Pinus taeda por plantios de eucalipto.

Espécies como E. viminalis, E. benthamii, E. nitens E. dunnii tem grande resistência à geada, e são indicadas para plantio em áreas de incidência do fator. Mas o E. benthamii e E. dunnii em comparação com outras espécies que são plantadas em clima tropical, como o E. grandis, E. saligna ou o híbrido E. urophylla x E. grandis tem baixa produtividade e esses são atualmente os materiais genéticos mais plantados no Sul do Brasil, em áreas não sujeitas a geadas.

Espécies como E. viminalis, E. dunnii e E. benthamii apresentam boa tolerância, com elevada variabilidade para resistência ao frio, mas essas têm certa dificuldade na propagação vegetativa. E, de acordo com a intensidades das geadas, cada espécie tem um certo comportamento. O E. dunnii e o E. nitens tem baixa resistência a geadas e sua recuperação depende da parte afetada, E. viminalis e o E. benthamii são considerados mais resistentes.

Déficit hídrico

A escolha do clone ideal para áreas com déficit hídrico está ligada com a regulação estomática, e também com o ajuste osmótico. As espécies que melhor se adaptam à seca são E. camaldulensis, C. torelliana, E. tereticornis e E. brassiana.

Mas, algumas procedências de E. grandis podem apresentar resistência à seca. A espécie E. camaldulensis tem baixo ajustamento osmótico, mas em contrapartida tem um sistema radicular profundo e ramificado, possibilitando absorver água de camadas mais profundas do solo, sendo atribuída a essa característica sua maior resistência à seca.

Clones ideais para fatores bióticos

Os principais fatores bióticos são os insetos e doenças causando danos às florestas plantadas. Atualmente, as principais doenças que causam danos econômicos são a mancha foliar (Cylindrocladium pteridis), a bacteriose (Xanthomonas axonopodis) e a ferrugem (Puccinia psidii).

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Espécies de eucalipto do tipo E. urophylla, E. grandis, E. saligna, E. pellita e E. resinífera não são afetadas por doenças de manchas foliares e desfolha, e mesmo seus híbridos que são cruzados com espécies suscetíveis não sofrem com a doença.

Assim, o cruzamento com essas espécies é uma medida eficiente para controle dessa doença. As espécies E. pellita, E. robusta e E. resinifera têm apresentado altos níveis de resistência às manchas foliares na região norte do Brasil.

As espécies que apresentam resistência à ferrugem são E. camaldulensis, E. microcorys, E. pellita, E. pilularis, E. propinqua, E. resiniferaE. robusta, E. saligna, E. tereticornis e E. urophylla.

Mitos e verdades

Além dos fatos citados acima, onde já mostra que o eucalipto tem espécies próprias para cada tipo de condição, há alguns mitos sobre ele e que são acompanhados de respostas.

eucalipto x solos
Solo Degradado sob Pastagem sendo Recuperado com eucalipto em São Domingos do Norte -ES. Foto: Divulgação/Cedrago.

A maior questão de todas que mexe com quem tem contato com o eucalipto é, ele seca ou não a agua? Esta questão ao longo de mais de 60 anos criou um debate entre produtores rurais e especialistas, onde uns afirmam que seca e outros que não.

Independente da resposta, uma coisa é certa, plantar árvores nativas ou não ajuda na manutenção do meio ambiente, isto é, evita a erosão do solo, diminui a lixiviação, captura carbono da atmosfera, conecta florestas para o trânsito da fauna, e também trás benefícios econômicos.

Desde a década de 60, muitos mitos foram construídos em torno do eucalipto. O insucesso das primeiras experiências de reflorestamento foi o bastante para que surgissem afirmações sem fundamento a respeito do cultivo de eucalipto. Tais afirmações foram sendo difundidas e conseguiram espaço até na mídia. O que não se comentava é que os resultados pouco animadores obtidos nas primeiras florestas plantadas não tinham relação com aquelas teorias infundadas, mas resultavam da falta de conhecimento técnico, que era natural, considerando-se que naquele momento a atividade era nova.

A maior construção de madeira de eucalipto da América Latina fica no Tocantins

Como não havia conhecimento técnico sobre essa cultura que na época era nova, e as notícias se espalhavam, nas décadas de 70 e 80 houve também um plantio desordenado no Brasil e as plantações de eucalipto acabaram ganhando o apelido de “deserto verde”.

Mito 1 – O Eucalipto seca o solo.

A verdade: O eucalipto tem a capacidade de absorver mais água no período de chuvas e reduzir a transpiração durante a época de estiagem, havendo espécies que chegam a perder as folhas no fim desse período. As raízes dele não ultrapassam 2,5 m de profundidade, por isso não alcançam os lençóis freáticos e retiram do solo uma quantidade de água muito próxima à consumida por árvores de florestas nativas.

Além disso, o eucalipto faz um aproveitamento muito eficiente da água que absorve, o que pode ser claramente percebido quando comparamos a produtividade dele e de outras culturas agrícolas a partir do mesmo volume de água. Cada litro de água consumido por uma floresta de eucalipto produz 2,9 g de madeira. Com o mesmo volume se produz apenas 1,8 g de açúcar, 0,9 g de grãos de trigo e 0,5 g de grãos de feijão.

O Eucalipto em relação ao uso da água

As florestas de eucalipto também retêm menos água da chuva que as matas nativas, cujas árvores possuem copas amplas. Nas matas, a água que fica retida na folhagem evapora, enquanto nas áreas de plantação de eucalipto a maior parte do volume de chuva cai direto no solo.

Mito 2 – O eucalipto prejudica o solo.

A verdade: Comparado com a agricultura, que tem ciclos anuais, o cultivo de eucalipto tem longa duração, com ciclos de aproximadamente sete anos. Durante esse tempo, ele atua em benefício do solo, protegendo-o e contribuindo para a melhoria de sua drenagem, aeração e capacidade de armazenamento de água.

Quando o eucalipto é colhido para aproveitamento da madeira, sua casca, galhos e folhas — partes da árvore que concentram cerca de 70% dos nutrientes dela — são deixados na própria floresta, onde vão se decompor. Esse material forma uma espessa cobertura de matéria orgânica que protege a superfície do solo da erosão. Quando decompostas, as partes da árvores são incorporadas à terra e seus nutrientes são aproveitados pelos outros eucaliptos que se desenvolvem ali.

Mito 3 – O eucalipto prejudica a biodiversidade.

A verdade: Ao contrário do que é amplamente divulgado, o setor de florestas plantadas tem um compromisso muito sério com a preservação da biodiversidade. As florestas de eucalipto são plantadas em consórcio com reservas nativas. Parte da área da propriedade é estabelecida como área de proteção permanente. Isso torna possível a formação de verdadeiros corredores ecológicos, que favorecem a presença de fauna e flora diversificada.

A questão da biodiversidade está relacionada também às condições prévias da região onde a floresta é estabelecida. Em uma área que já foi floresta nativa um dia, mas que agora está desmatada, a implantação de uma floresta de eucalipto resultará em um aumento considerável da biodiversidade.

Mito 4 – As florestas de eucalipto prejudicam as comunidades vizinhas.

A verdade: Engana-se quem acredita que a implantação de uma floresta de eucalipto ameaça as comunidades que vivem perto dela e prejudica a economia da região. Muito pelo contrário. As florestas de eucalipto geram dezenas de empregos de forma direta e indireta. Tanto os viveiros, onde são produzidas as mudas quanto a manutenção da própria floresta em desenvolvimento requerem mão de obra qualificada, e nada melhor do que contratar gente dos arredores para suprir essa demanda. Ao mesmo tempo, essas pessoas têm a oportunidade de aprender uma profissão.

Além disso, na localidade em que uma floresta plantada se estabelece há investimento em infraestrutura, pois necessita-se, por exemplo, que as estradas por onde passarão as carretas com carregamento de madeira estejam em boas condições. Com isso, todos que utilizam aquela estrada também são diretamente beneficiados. Esse é só um exemplo de como uma floresta de eucalipto pode contribuir para a região onde está.

Consumo de água

Estudos recentes revelam que o eucalipto é muito eficiente no aproveitamento da água. Enquanto um litro produz 2,9 gramas de madeira, a mesma quantidade de água produz apenas 1,8 gramas de açúcar, 0,9 gramas de grãos de trigo e 0,5 gramas de grãos de feijão.

consumo de água
Consumo de água. Fonte: UFV.

“Numa plantação bem manejada, as raízes retiram os nutrientes do solo e os devolvem como matéria orgânica: as folhas secas. Isso recupera a fertilidade da terra, fazendo com que absorva mais água e contribua para o lençol freático”, afirma o engenheiro florestal Walter de Paula Lima, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, SP, autor do livro O Impacto Ambiental do Eucalipto.

Plantio correto

O planejamento e o plantio correto são o segredo para que o eucalipto não prejudique o meio ambiente e garanta todas as vantagens ao solo.

“É preciso conhecer bem a terra, ficar atento ás áreas de preservação, não plantar perto de cursos de água e nascentes e fazer um bom preparo do solo. Plantar eucalipto com diferentes idades também é recomendado”, explica o engenheiro florestal, Guilherme Christo.

Mosaico

Pra quem ainda imagina aquelas áreas enormes apenas com eucalipto não conhece duas modalidades que estão sendo cada vez mais usadas: o mosaico e o policultivo com agroecologia.

mosaico florestal
Mosaico florestal. Foto: Suzano.

O mosaico florestal é quando há plantação de eucalipto e de florestas nativas, como a Mata Altântica.  É uma técnica  que considera a paisagem florestal como um “quebra-cabeça” de diferentes culturas, para conciliar desenvolvimento econômico e conservação ambiental.

A Suzano utiliza o método nas plantações. Entre a vegetação nativa e as florestas de eucalipto, ficam corredores ecológicos para que a fauna e a flora possam circular livremente. O manejo promove uma convivência harmoniosa que reflete em ganhos para a biodiversidade e para a produtividade.

Fontes: Venturolli – Mitos e verdades sobre o eucalipto; Folha Vitória – O plantio de Eucalipto estraga ou recupera o solo?; ABAF – Árvores plantadas; Agropos; Revista Campos e Negócios; Timbeter.

 


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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