Estudo mapeia regiões mais suscetíveis à desertificação no Brasil

Decisões tomadas nas próximas décadas
serão fundamentais para definir a cor predominante do Nordeste brasileiro: o
marrom da seca ou o verde das lavouras. Relatório produzido pelo Centro de
Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), prestes a ser lançado e ao qual o Correio
teve acesso, aponta que a região deve sofrer com condições climáticas mais
adversas que aumentarão o risco de desertificação de várias áreas. No entanto,
o documento também lista uma série de tecnologias que vêm demonstrando
resultados positivos e, caso sejam implementadas de maneira mais consistente,
podem garantir a qualidade da terra.

A desertificação é o processo de empobrecimento do solo até o ponto em que ele
não pode mais garantir a subsistência da população de determinado local. De acordo
com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla
em inglês), que elegeu o dia 17 de junho de 2015, como a data mundial de combate ao
problema, 42% da população global vivem nas chamadas terras secas, mais
suscetíveis ao fenômeno. Trata-se de áreas submetidas à influência de climas
áridos, semiáridos e subúmidos secos. No Brasil, compõem quase 15% do
território.


Segundo Antônio Magalhães, assessor técnico do CGEE, organização social
supervisionada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o
principal feito do estudo é delimitar com precisão inédita qual é a região
brasileira suscetível à desertificação, o que serve de importante guia para as
políticas públicas de prevenção. As terras secas brasileiras incluem parte de todos
os estados nordestinos, mais o norte de Minas Gerais e um pedaço do Espírito
Santo. São 1.491 municípios e mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados. A
Bahia é o estado com o maior número de municípios na área (291), seguida de
Piauí (217) e Paraíba (209).

Foi possível, ainda, apontar as áreas que exigem mais atenção. Dados dos
índices de chuva entre 1950 e 2012 mostram que são altamente vulneráveis à
desertificação o centro-leste do Piauí, a quase totalidade do Ceará, o norte da
Bahia e o centro-oeste de Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. “Com as
mudanças climáticas, essas áreas podem se tornar ainda mais suscetíveis”,
alerta Magalhães, destacando um dos pontos do relatório.



Causas


O especialista ressalta, contudo, que o clima não deve ser responsabilizado
pelo empobrecimento extremo do solo, que já se observa em alguns municípios
nordestinos. “Enquanto a seca é um fenômeno climático, a desertificação é um
fenômeno humano”, afirma Magalhães, que já presidiu o Comitê Científico da
UNCCD. E o documento de quase 300 páginas mostra bem isso. Além de usar imagens
fornecidas pelo satélite norte-americano Landsat 8, os 36 especialistas
envolvidos no trabalho traçam um perfil socioeconômico da região que ajuda a
entender como certas práticas favorecem o problema.

Os pontos em que a caatinga, bioma
característico do semiárido, já cedeu são aqueles em que o desmatamento avança
para abrir espaço para a agricultura, produção de energia ou comércio de
madeira. Com a falta de medidas para conter o processo de erosão dessa terra
desnudada, o solo fica cada vez mais pobre, até entrar em colapso. A paisagem
muda, com a substituição da vegetação de caatinga por uma típica de climas
áridos, com predominância de cactáceas.

Fonte: Humberto Rezende- Correio Braziliense

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