Localizado no extremo sul do Brasil, no estado do Rio Grande do Sul, o Pampa é um bioma frequentemente negligenciado quando se trata de biodiversidade. Apesar de sua invisibilidade, os campos naturais que caracterizam a paisagem na região abrigam aproximadamente 9% de todas as espécies atualmente conhecidas no país. Esses dados foram revelados por um levantamento inédito que identificou 12.503 espécies no bioma, incluindo fauna, flora, fungos e bactérias.
A pesquisa, publicada em janeiro na revista internacional Frontiers of Biogeography, é fruto de um esforço coletivo assinado por mais de 120 pesquisadores provenientes de 70 instituições distintas. Gerhard Overbeck, professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um dos líderes do estudo, destaca a simplicidade da pergunta inicial: qual é a biodiversidade do bioma Pampa? Ele ressalta que, embora a região seja conhecida por suas extensas planícies de campos, ela abrange uma variedade de ambientes, como florestas, banhados e butiazais.
Ao longo de mais de dois anos, em colaboração com os pesquisadores Bianca Ott Andrade e William Dröse, também da UFRGS, o estudo superou as estimativas anteriores para a maioria dos grupos de organismos. O levantamento totalizou 12.503 espécies e 12.851 táxons, incluindo espécies e subespécies.
Destacam-se as surpreendentes descobertas em relação às algas e fungos. O Pampa apresentou 2.046 espécies de algas, mais que o dobro do conhecido anteriormente no bioma, representando 40% da diversidade conhecida em todo o país. Quanto aos fungos, entre líquens e não-líquens, foram identificadas 1.141 espécies, aproximadamente 10 vezes mais do que se associava ao bioma.
Outros destaques incluem 567 espécies de aves, 120 de mamíferos e 274 de abelhas. Os pesquisadores ressaltam que o Pampa exibe uma alta biodiversidade não apenas em plantas campestres, mas em diversos outros grupos, como formigas, das quais estimam que entre 40% e 50% das espécies amostradas ainda são desconhecidas pela ciência.
Com a rápida destruição do bioma, que já perdeu mais da metade de sua área de cobertura nativa nos últimos 35 anos, os pesquisadores esperam que a base de dados construída sobre a biodiversidade do Pampa seja atualizada periodicamente. Essa base deve servir como referência para discussões sobre a conservação do bioma, que abrange pouco mais de 2% do território brasileiro. Quase metade das espécies identificadas reside em ecossistemas campestres (23%) ou áreas alagadas e úmidas (26%), enquanto cerca de 3,5% são endêmicas do Pampa brasileiro.
Os pesquisadores também ressaltam que, embora cerca de um terço das espécies registradas no Pampa tenha sido estudado o suficiente para determinar seu status de ameaça, apenas 622 espécies foram classificadas como Criticamente Em Perigo de Extinção, Em Perigo ou Vulnerável em avaliações regionais, nacionais ou globais. Até o momento, 23 espécies foram consideradas extintas no bioma, a maioria sendo plantas (17).
Fonte: ((o))eco
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