Você provavelmente já ouviu alguém falando que tem “A mão podre” pra plantas, que nada que planta, chega a germinar e coisas do gênero! Mas, esse tipo de coisa pode ter algum tipo de explicação? Existe isso de Sementes que dormem? Dormência de sementes!? tem explicação plausível, sem ter que jogar para o sobrenatural?
A resposta é SIM! (Muitas explicações, diga-se de passagem).
Uma delas está relacionada ao processo de dormência das sementes, isso mesmo, uma soneca.
Esse é um fenômeno muito comum e que faz parte de uma estratégia evolutiva de muitas espécies do reino vegetal, visando a perpetuação e maior proliferação de indivíduos de uma determinada espécie.
Para entendermos esse processo devemos entender que o desenvolvimento de uma semente é um fator resultante lá da polinização, no entanto nem sempre o embrião consegue o desenvolvimento completo, após a fertilização, isso pode se dar muitas vezes por fatores fisiológicos, relacionados ao Endosperma, que é grosso modo, o tecido que fornece nutrientes para o embrião em seu desenvolvimento. Existem também alguns frutos que podem se desenvolver sem que tenham ocorrido polinização e fertilização, fenômeno chamado de Partenocarpia.
Seguindo para a Germinação, que é o processo que ocorre quando a semente encontra condições de Nutrientes, Oxigênio, Umidade do ar e luz ideais para que haja a reativação do embrião, que seguirá crescendo até romper o tegumento (camada de proteção) da semente.
Dito isso, entendemos essa tática como benéfica para a manutenção de espécies vegetais, facilitando inclusive distribuição geográfica e essa estratégia pode ser aplicada pelas plantas de Três formas básicas;
I – Dormência tegumentar ou exógena
II- Dormência embrionária ou endógena
III- Dormência Epicotelial
Na primeira delas, a DORMENCIA TEGUMENTAR OU EXÓGENA; a semente é dormente porque os tecidos que a envolvem exercem uma dificuldade que muitas vezes, mesmo em condições favoráveis, é difícil de ser superada pelo embrião, sendo conhecido como dormência imposta pelo tegumento. Esta é a mais comum das categorias de dormência, e está relacionada com a impermeabilidade do tegumento ou do pericarpo à água e ao oxigênio, com a presença de inibidores químicos no tegumento ou no pericarpo, tais como a Cumarina ou o Ácido Parasórbico, ou com a resistência mecânica do tegumento ou do pericarpo ao crescimento do embrião. No entanto em muitos casos, Bactérias ou mesmo fungos que coabitam o solo, auxiliam na degradação dessa camada auxiliando assim a diminuição ou mesmo a quebra da dormência dessas sementes. (guardem esse termo “Quebra da dormência que falaremos logo mais a respeito).
Por sua vez; A dormência endógena é causada por algum bloqueio à germinação relacionado ao próprio embrião, podendo ser dividida em fisiológica, morfológica. Na dormência fisiológica, a presença de inibidores químicos no embrião, a falta de balanço hormonal ou mesmo a incapacidade do embrião para superar barreiras físicas e/ou mecânicas representadas pelos tecidos adjacentes à semente podem dificultar a germinação. No caso da dormência morfológica, as sementes são dispersas com o embrião não-diferenciado ou não completamente desenvolvido, necessitando passar por um período de maturação após a dispersão ou colheita. Nos casos de dormência morfofisiológica, os dois mecanismos descritos anteriormente ocorrem simultaneamente. Em Outras palavras, essa dormência de maneira alguma é relacionada à camada de proteção que possa existir na semente, ela é inerente ao embrião! Esta categoria de dormência é mais comum nas espécies florestais.
As sementes de várias espécies também desenvolvem mecanismos complexos, nos quais partes do eixo embrionário diferem na intensidade da dormência. Nestes casos, chamados de dormência epicotelial, a radícula se desenvolve e o epicótilo não. Em algumas outras espécies, a radícula apresenta alguma dormência, porém em menor intensidade que a do epicótilo, o que representa o caso de dormência dupla.
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Processos de quebra de dormência
Diversos métodos podem ser empregados no intuito de superar a dormência das sementes e assim fazer com que estas germinem. Estes métodos utilizam técnicas que envolvem a escarificação das sementes, por meio de métodos mecânicos ou químicos, estratificação, choque de temperatura ou até mesmo, água quente.
Escarificação química: método que utiliza elementos químicos, como ácidos (sulfúrico, clorídrico etc.), que possibilita que as sementes realizem trocas com o meio, água e/ou gases.
Escarificação mecânica: método que utiliza a abrasão das sementes sobre uma superfície áspera (lixa, piso áspero, dentre outros) com o objetivo de facilitar a absorção de água pela semente.
Estratificação: método que utiliza o tratamento úmido à baixa temperatura, auxiliando as sementes na maturação do embrião, trocas gasosas e embebição por água.
Choque de temperatura: método que utiliza a alternância de temperaturas variando em até 20 ºC, em períodos de 8 a 12 horas.
Água quente: método que consiste na imersão das sementes em água na temperatura de 76 a 100 ºC, com um tempo de tratamento específico para cada espécie, comumente utilizado em sementes que apresentam impermeabilidade do tegumento.
A dormência é um fenômeno muito importante dentro da agricultura por muitos aspectos. Um desses que deve ser ressaltado é o fato da dormência também estar diretamente ligada a formação do banco de sementes de plantas daninhas no solo, que dificulta o manejo das áreas produtivas.
Tendo em vista que as sementes possuem diferentes níveis de dormência (mesmo sendo originadas da mesma planta), as sementes de plantas daninhas como Digitaria insularis (capim amargoso), por exemplo, irão germinar, de forma aleatória ao longo do tempo e sem sincronia, quando cada semente tiver sua dormência quebrada. Isso dificulta muito o manejo das plantas daninhas, no geral.
Seria muito mais fácil o controle das mesmas se elas germinassem todas ao mesmo tempo, não é mesmo? Mas a natureza é sábia e, para perpetuação das espécies, não permite que isso aconteça. A dormência é, portanto, um processo complexo que acontece em diversos níveis e formas em espécies variadas e deve ser cada vez mais estudada a fim de buscar soluções para problemas como o citado no exemplo do manejo do capim amargoso ou a fim de contribuir com a formação de mudas de plantas com sementes dormentes que demorariam anos para germinar de forma natural, por exemplo.
Fonte: João Antonio Pereira Fowler – “DORMÊNCIA EM SEMENTES FLORESTAIS”, Embrapa, 2000
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