Energia solar leva internet a populações isoladas do Amazonas

A cantoria ecoa no barracão azul, centro comunitário da ribeirinha
São João de Ipecaçu, município de Maraã (AM). A música entoa os valores
retirados no trançado do paneiro, tipo de cesto muito comum nessa região
feito da fibra do cauaçu ou arumã. Ela foi escolhida pela artesã Erly
Moura para representar a parceria entre o povo de São João e o projeto
‘Energia Solar para Inclusão Digital’ do Instituto Mamirauá, patrocinado
pela Huawei por meio do Instituto Cooperforte.



Era a manhã do último sábado (21), dia de uma festa com muitas
celebrações: a implantação de um sistema solar na comunidade, a chegada
da internet e a formatura de 19 jovens no curso de capacitação do
projeto. Cidadania, informática e manutenção de computadores e os
fundamentos do sistema de energia solar foram os eixos da formação em
quatro módulos realizada por uma equipe multidisciplinar do Instituto
Mamirauá.



“O curso faz parte das nossas atividades. Nós capacitamos pessoas de
todas as idades em questões de manejo de recursos naturais, uso de
fontes renováveis, em educação ambiental”, explica Ana Claudeise
Nascimento, uma das coordenadoras do projeto.

“A parceria entre a Huawei, Instituto Coooperforte e o Instituto
Mamirauá deu muito certo e eu estou feliz de estar hoje aqui diante
desses jovens, em um momento tão importante”, expressou Alexander Rose,
representando a patrocinadora Huawei nos eventos de formatura em Tefé e
em São João do Ipecaçu.

Acesso à internet

Por meio do projeto, em novembro do ano passado, os moradores de São
João tiveram acesso à internet pela primeira vez. Antes disso, tarefas
simples, como emitir uma nota fiscal, eram verdadeiros desafios.
“Para tirar uma nota fiscal, a gente tinha que viajar até Manaus. Com
a internet, agora vamos poder fazer aqui mesmo. Vai ser mais fácil
manter contato com os clientes, por e-mail, e divulgar mais nosso
artesanato”, conta a artesã Marly das Chagas Oliveira, presidente da
Associação de Mulheres Teçume da Amazônia.

Energia solar

É na sede do Teçume da Amazônia, grupo que há 15 anos produz peças de
cestaria e outros produtos artesanais, que está instalado o computador
com ponto de acesso à internet para uso coletivo e também o primeiro
sistema de energia solar da comunidade. O sistema, formado por placas
solares posicionadas no telhado do Teçume, um gerador fotovoltaico,
inversor (que transforma corrente contínua em corrente alternada) e um
banco de bateria (que armazena energia durante o dia para ser usada à
noite) tem autonomia de cerca de dois dias e meio e promete uma grande
mudança em São João do Ipecaçu.
Painéis fotovoltaicos instalados

“A energia solar, dentro da realidade da geografia da Amazônia de
grandes distâncias, é uma das saídas para tirar o povo da escuridão,
porque proporciona geração isolada em diversas comunidades”, diz o
técnico do Programa Qualidade de Vida, Otacílio Brito, com a confiança
de quem trabalha há anos na implantação de sistemas de energia solar.


Atualmente, a comunidade de 167 pessoas, 40 casas e uma escola de
ensino básico à margem do rio Coraci depende quase exclusivamente da
energia termoelétrica para conseguir luz via geradores movidos à óleo
diesel. A eletricidade é ligada todos os dias às 18 horas e dura até às
22h, tempo para atividades domésticas, como assistir televisão e também
para o estudo. O diesel representa um gasto mensal de 3 mil reais,
dividido entre todas as famílias.


“Essas quatro horas de luz são insignificantes para as necessidades
de São João. O morador dessas localidades, ao ver que o sistema solar
funciona e é bom, vai investir seu dinheiro e, assim como compra um
freezer, uma televisão, vai também adquirir seu sistema solar. Não polui
o meio ambiente, não faz barulho e não gasta combustível”, afirma
Otacílio.


A estudante Giovana Silva, uma das formandas do curso, ouve atenta a
essas palavras. “Eu gostei muito de aprender sobre energia solar e
espero praticar cada vez mais tudo que aprendi no curso. Quero ajudar as
mulheres do Teçume da Amazônia com a informática, tirando as notas
fiscais, por exemplo”, conta.

Formatura em Tefé

Formatura do projeto Energia Solar para Inclusão Digital
No dia anterior, sexta-feira (20), aconteceu a entrega de diplomas da
turma do projeto “Energia Solar para Inclusão Digital” em Tefé, na sede
do Instituto Mamirauá. Os 16 participantes vindos de Colônias de
Pescadores da região passaram um mês no Centro de Vocacional Tecnológico
(CVT) do Instituto, tendo aulas de cidadania, informática e manutenção
de computadores e sobre os princípios e funcionamento da energia solar.

“Estamos muito satisfeitos. Foram semanas de caminhada junto com
esses jovens e como resultado já temos alguns deles inseridos no mercado
de trabalho grupo, como a Ana Carla Barbosa. Outros estão se
inscrevendo em novos cursos de formação e dando seguimento a sua vida
profissional”, relata Sandro Rigatieri, líder do CVT.


“Esse projeto fez a diferença nas nossas vidas”, diz Weigson
Oleriano, 19 anos, um dos concluintes do curso. “Nós, que somos de baixa
renda, somos os primeiros a sofrer as consequências de todo o
desmatamento, de tudo que é feito para se conseguir outros tipos de
energia, que não são renováveis. Então, eu acho que é uma grande ideia
do Instituto incentivar a energia solar”.

Fontes: Instituto Amazônia, Instituto Mamirauá, Portal da Amazônia

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