Extensão territorial
O Cerrado se destaca como o segundo maior bioma brasileiro, ocupando mais de 20% do território nacional, aproximadamente 203 milhões de hectares. Em extensão, entre os biomas brasileiros, o Cerrado fica atrás apenas da Amazônia e ocorre nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Bahia, Maranhão, Piauí e Distrito Federal, com encraves ainda em Roraima, Amapá, Amazonas e pequenas áreas no norte Paranaense. Além disso, incorpora ainda partes do território de países vizinhos como Bolívia e Paraguai.
Povos Cerradeiros
O Mestre em Geografia, Valmir Crispim dos Santos, explica que “a (RE)Existência construída pelos Povos Cerradeiros apresenta em sua essência na luta pela terra, pela água, pelas práticas socioculturais, enfim na luta pelo território. Mendonça (2015), nos ensina que mesmo desterritorializados os Povos Cerradeiros se reinventam em sua reprodução social. “Essa (RE)existência pode ser observada na reinvenção das práticas socioculturais dos camponeses e trabalhadores da terra que, expulsos dela se reterritorializam nas áreas urbanas, nas áreas de fronteira e nos acampamentos e assentamentos mediante a luta pela terra e pela reforma agrária.”
“Nesses espaços é comum os festejos de “folias de reis, as procissões em devoção aos santos, fogueiras e festas juninas, fogões a lenha etc. (Mendonça 2015, p. 9). Esses, costumes, tradições, crenças e modos de vida mostra a essência da (RE)Existência dos Povos Cerradeiros desterritorializados em função da apropriação de seus espaços de vida pelo agrohidronegócio. Preservar essas práticas significa resgatar um passado que continua presente nas lutas e (Re)Existências que afloram, pela consolidação do território, seus símbolos e saberes ou seja a luta pela terra e por políticas públicas capazes de oferecer o mínimo de dignidade aos Povos Cerradeiros.”
Valmir Crispim dos Santos afirma ainda que, conforme Mendonça (2004, p. 327), “ser Cerradeiro é cultivar valores, tradições, saberes e sabores próprios do Cerrado”. Cerradeiro compreende várias categorias de trabalhadores da terra como indígenas, vazanteiros, veredeiros, quilombola, geraizeiros e chapadeiros”. Atualmente em Goiás, os Quilombolas representam a maior comunidade de Povos Cerradeiros, que ainda lutam para se manterem na terra, nesse território que é uma das últimas áreas preservadas do Cerrado.
Biodiversidade
Contam-se mais de 12.070 espécies conhecidas da sua flora, das quais 44% endêmicas. Da flora do Cerrado, 645 espécies encontram-se ameaçadas de extinção, o que representa mais de 30% das espécies presentes na lista vermelha do Brasil, além disso, estima-se que quase a totalidade das ervas ou plantas herbáceas encontradas no Cerrado, seja também exclusiva da região. Quanto às aves, há 856 espécies, cerca de metade da avifauna brasileira, sendo 30 endêmicas. Entre os mamíferos, mais de 200 espécies, com 10% de exclusivismo; dentre os répteis, contam-se 180 espécies, a metade do total brasileiro, e 17% de endemismo.
Fitofisionomias do Cerrado. Fonte: Embrapa. |
Importância para a hidrografia brasileira
O Cerrado e as regiões hidrográficas brasileiras. Fonte: Embrapa Cerrados |
Ameaças
Numerosas espécies de plantas e animais estão ameaçadas ou correm risco de extinção. Estima-se que 20% das espécies nativas e endêmicas não são protegidas por nenhuma das áreas protegidas legais e pelo menos 345 espécies de animais que ocorrem no Cerrado estão ameaçadas de extinção, de acordo com as listas oficiais.
Conservação
O monitoramento por satélite do avanço do desmatamento e conversão de terras no bioma é também uma importante ferramenta à conservação, como exemplo temos o Projeto TerraClass Cerrado: Mapeamento do Uso e Cobertura Vegetal do Cerrado. Sob coordenação do MMA, técnicos do IBAMA, do INPE, da EMBRAPA, da UFG e da UFU juntaram esforços e competências para a formulação do mapeamento abrangendo a área contínua do Cerrado. A base de dados do TerraClass amplia a compreensão das dinâmicas ecológicas, econômicas e produtivas, permitindo gerenciar as relações entre pecuária, agricultura e meio ambiente e o aperfeiçoamento de estratégias de conservação.
Se considerarmos que o Brasil é globalmente importante para a segurança alimentar sendo hoje o um dos maiores produtores de alimentos do mundo, ameaças decorrentes de escassez de água, desaparecimento de polinizadores e mudanças climáticas irão afetar não só a biodiversidade em si, mas toda a economia dos habitantes do bioma, hoje fortemente centrada na agricultura.
As projeções para as próximas quatro décadas indicam os maiores aumentos relativos na produção agrícola do país, é necessário que haja a compatibilidade entre os sistemas de produção e a conservação do Cerrado. Os impactos sofridos aqui (no Cerrado), irão atingir com toda certeza distâncias que extrapolam os limites geográficos, tendo em mente que o bioma faz divisa com vários outros. Além disso, três das maiores bacias hidrográficas sul-americanas têm suas cabeceiras no Cerrado (Araguaia/Tocantins, São Francisco e Paraná/Paraguai) e seu efeito guarda-chuva, que distribui águas para 8 das 12 regiões hidrográficas brasileiras.
Dicas de Leitura: O que é o MATOPIBA? , Importância do Cerrado para as regiões hidrográficas brasileiras, Desmatamento do Cerrado, o novo vilão ambiental do Brasil, A Conservação do Cerrado Brasileiro, Programa Cerrado Sustentável, Estudo aponta intenso desmatamento no Cerrado
Fontes: Embrapa, WWF-Brasil, MMA, Livro Plantas Raras do Brasil, Livro Vermelho da Flora do Brasil: Plantas Raras do Cerrado, Rede Cerrado, Centro Nacional de Conservação da Flora,
MENDONÇA, M. R. A urdidura espacial do capital e do trabalho no Cerrado do Sudeste Goiano. 2004. 457 f. Tese (Doutorado em Geografia) _ Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2004.
______, As transformações espaciais no campo e os conflitos pelo acesso a terra e a água: as novas territorialidades do agrohidronegócio em Goiás. Revista Pegada. Presidente Prudente, v. 16, n. especial, p. 3-15, maio de 2015.
SANTOS, V. C. Extensão rural e valorização dos saberes/fazeres da Comunidade Quilombola kalunga de Monte Alegre de Goiás (GO), 2015. 197 p. (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Goiás, 2015.
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