Desmatamento dispara 22% em 2022 e expõe velocidade alarmante da perda ambiental no Brasil

Destruição supera dois milhões de hectares e acentua a pressão sobre Amazônia e Cerrado; em 2022 o desmatamento cresceu 22,3%, com cerca de 21 árvores derrubadas por segundo na Amazônia e o maior pico registrado em 25 de julho.

Em 2022, enquanto o Brasil atravessava debates políticos e promessas de reconstrução ambiental, a derrubada de vegetação nativa avançava em ritmo industrial. O país perdeu mais de dois milhões de hectares em um único ano – uma área equivalente a 90% de Sergipe –, revelando não apenas um aumento de 22,3% em relação ao ano anterior, mas a consolidação de um processo que se tornou rotina, automatizado, quase silencioso.

Foto: Adriano Gambarini/ WWF Brazil

O novo Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas, desmonta qualquer impressão de estabilidade no uso da terra. As imagens de satélite, validadas por especialistas, mostram um país em que o relógio corre contra as florestas: na Amazônia, 21 árvores caíram a cada segundo em 2022.

E houve um dia em que a devastação atingiu seu ápice: 25 de julho se tornou uma espécie de símbolo desse processo, com 6.945 hectares derrubados em apenas 24 horas – o equivalente a 8.400 campos de futebol. É a fotografia, em um único quadro, de uma engrenagem que funciona em alta velocidade.

Um país que desmata “a hora inteira”

Nos últimos quatro anos, de 2019 a 2022, o Brasil registrou mais de 303 mil eventos de desmatamento, totalizando 6,6 milhões de hectares eliminados. Em números simples: uma área uma vez e meia maior que o estado do Rio de Janeiro desapareceu sob correntões, motosserras e fogo.

O relatório traduz essa dinâmica de forma crua:
234,8 hectares por hora, ou 5.636 hectares por dia, desapareceram em média em 2022.
Só a Amazônia respondeu por 3.267,5 hectares diários.

A velocidade aumentou em todos os biomas, exceto na Mata Atlântica, onde permaneceu estável. Mas “estável”, aqui, não é sinônimo de segurança — apenas indica que o bioma já perdeu demais para continuar acelerando.

O peso concentrado de Amazônia e Cerrado

Embora o debate público frequentemente se concentre na Amazônia — que, de fato, concentra a maior parte dos alertas — o RAD chama atenção para um dado revelador: 90% de toda a área desmatada do país está concentrada em dois biomas: Amazônia e Cerrado.

E há um detalhe incômodo: o Cerrado, que aparece com menos alertas que a Amazônia, representa quase um terço de toda a vegetação natural suprimida no país em 2022. O coração hídrico do Brasil, berço das principais bacias hidrográficas, segue avançando como fronteira agrícola.

Agropecuária domina as derrubadas; garimpo resiste em áreas críticas

A agropecuária permanece como responsável por mais de 95% do desmatamento nacional. A expansão de pastagens, abertura de novas áreas para plantio e a conversão de vegetação nativa em lotes produtivos seguem ditando o ritmo da supressão.

Em algumas regiões do Pará, o relatório também detecta a presença marcante de garimpo como vetor de pressão, criando mosaicos de degradação que combinam clareiras, estradas e áreas de extração mineral.

A geografia da destruição

O Brasil despeja, ano após ano, um mapa de cicatrizes ambientais. Em 2022, os estados que mais desmataram foram:

  • Pará – 22,2%

  • Amazonas – 13,33%

  • Mato Grosso – 11,62%

  • Bahia – 10,94%

  • Maranhão – 8,2%

Juntos, eles respondem por dois terços de todo o desmatamento do país.

Um dado novo chama atenção: o município de Lábrea (AM) superou Altamira (PA) — campeão por três anos consecutivos — e se tornou o ponto mais crítico do mapa. Um deslocamento que revela a interiorização da destruição e o avanço em áreas de difícil fiscalização.

Um país inteiro tocado pela perda

O levantamento mostra que 62% dos municípios brasileiros tiveram ao menos um evento de desmatamento detectado e validado em 2022. Em outras palavras: a devastação deixou de ser um fenômeno restrito a “fronteiras do desmatamento” e se espalhou por quase todo o território nacional.

O retrato de um ano que ainda ecoa

Os números de 2022 já fazem parte de um passado recente, mas expõem um legado que perdura no presente — especialmente nos biomas mais vulneráveis, pressionados pelo avanço da produção agropecuária e pela ausência prolongada de políticas ambientais eficazes.

O RAD cumpre o papel de alertar: o desmatamento no Brasil não é acidental, não é isolado e não é improvisado. É um processo contínuo, previsível e organizado. Um processo que, se mantido, redefine ecossistemas, compromete o clima, pressiona povos tradicionais e fragiliza as bases ambientais de um país inteiro.

E enquanto a floresta cai a 21 árvores por segundo, cada uma dessas quedas se torna mais difícil de reparar.

As informações citadas nesta matéria podem ser consultadas no Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), produzido pela rede MapBiomas (m1d00040.pdf)


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