Cães domésticos em florestas, búfalos no Cerrado e até os mosquitos da dengue em áreas urbanas exemplificam espécies estrangeiras invasoras (EEI), introduzidas em locais fora de seus habitats naturais devido às atividades humanas. Esse deslocamento de microrganismos, animais ou plantas ameaça a fauna e flora nativas, resultando em desafios ambientais, sociais e econômicos, representando uma das cinco principais causas globais de perda de biodiversidade.
O Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos do Brasil, elaborado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), delineia a problemática no país. O documento apresenta dados cruciais sobre invasões biológicas, a introdução desses invasores e os impactos resultantes.
Com 73 autores e 12 colaboradores, sendo 16 especialistas responsáveis pelo Sumário para Tomadores de Decisão, o relatório visa informar aqueles que moldam políticas e ações de mitigação para espécies invasoras. Vânia Regina Pivello, professora do Instituto de Biociências (IB) da USP, destaca a importância desse conhecimento na formulação de estratégias de manejo e prevenção.
O problema das espécies invasoras abrange todas as regiões brasileiras, com mais de 500 espécies registradas, incluindo cerca de 200 de plantas e mais de 250 de animais. Peixes e invertebrados dominam ambientes continentais, enquanto invertebrados prevalecem em ambientes marinhos. O impacto dessas espécies transcende a saúde humana e animal, afetando a competição entre espécies nativas e estrangeiras, além de causar desdobramentos na esfera econômica.
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O estudo revela que, entre 1984 e 2019, apenas 16 espécies exóticas invasoras causaram prejuízos econômicos significativos no Brasil, variando de 77 a 105 bilhões de dólares, incluindo danos às usinas hidrelétricas e à produção agrícola. Andrea Junqueira, coordenadora do estudo, enfatiza a interconexão entre os aspectos econômicos, de saúde e ecológicos.
O processo de invasão, resultante de atividades antrópicas, apresenta quatro fases principais: transporte, introdução, estabelecimento e expansão no novo ambiente. Apesar da existência de políticas públicas, é necessário um esforço integrado para solucionar efetivamente o problema, unificando abordagens em uma política nacional de combate a espécies invasoras.
Para lidar com as espécies invasoras, o manejo deve envolver ações de prevenção, detecção e controle. Michele de Sá Dechoum, uma das coordenadoras do relatório, destaca a importância de protocolos e ferramentas, como análise de risco, para evitar a introdução de espécies prejudiciais. Além disso, a implementação de medidas de informação pública sobre invasões biológicas é crucial, pois muitas pessoas não estão cientes do problema e de suas consequências.
O relatório e o Sumário para Tomadores de Decisão representam um passo inicial para abordar as implicações ambientais, sociais e econômicas das espécies invasoras. A mensagem central é clara: agir agora é crucial para evitar agravamento do problema.
Fonte: Jornal da USP
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