Durante a graduação em biologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mesquita soube do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), então recém-criado no Inpa pelo ecólogo norte-americano Thomas Lovejoy (1941-2021), e escreveu ao ornitólogo Richard (Rob) Bierregard, demonstrando interesse pela iniciativa. Como resposta, recebeu uma passagem aérea que lhe permitiu viajar a Manaus no dia seguinte à formatura, em fevereiro de 1985. Em sua segunda noite no estado do Amazonas, enfrentou o frio enrolada em uma toalha de banho, em uma rede em plena floresta, fria e úmida durante a madrugada.
“Era para ser um estágio de alguns meses, virou a vida inteira”, resume os últimos quase 40 anos. Foi no Inpa que conheceu o marido, o biólogo norte-americano Mario Cohn-Haft, que também foi para Manaus atraído pelo projeto.
A rotina de desmatamento que Mesquita presenciou tirou seu foco das aves, que estudou no mestrado. “Não dava para continuar só olhando passarinho.” Passou então a trabalhar com ecossistemas para contribuir com a política ambiental. Durante o doutorado na Universidade da Georgia, nos Estados Unidos, a pesquisadora desenvolveu equações, usadas até hoje, para melhorar as métricas de emissões de matas degradadas.
De volta ao Inpa, trabalhou como consultora na adequação dos critérios ambientais de certificação FSC (Forest Stewardship Council) à floresta amazônica, foi coordenadora científica do PDBFF e em 2004 tornou-se secretária adjunta de gestão ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas. No serviço público, dedicou-se à captação de recursos internacionais para conservação e esteve envolvida na estruturação do sistema estadual de áreas protegidas.
Explorando o caminho entre a pesquisa e o público, de 2008 a 2012 Mesquita integrou a coordenação do Jardim Botânico de Manaus e foi diretora técnica do Museu da Amazônia (Musa), que pertence ao Inpa. Entre 2010 e 2016, criou e esteve à frente do programa de mestrado profissional em gestão de áreas protegidas da Amazônia.
“A cada dois ou três anos, mudo de profissão”, brinca. Há meia década respondendo pelo programa de extensão, já começa a sentir a necessidade de nova mudança. No momento, Mesquita, aos 60 anos, sente-se atraída por ver como a ciência pode contribuir mais com políticas públicas pela Amazônia e seu potencial de unir a defesa da floresta e das pessoas que vivem na região. “Nunca me aventurei em negócios, e muito pouco na política”, diz, desafiada.
Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
Descubra mais sobre Florestal Brasil
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.