Demanda do Centro-Sul por produção agropecuária pressiona desmatamento na Amazônia

A demanda por produtos agrícolas e pecuários no Centro-Sul do Brasil está exercendo uma pressão significativa sobre o desmatamento na Amazônia, de acordo com um estudo da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP. Os pesquisadores mapearam as relações comerciais tanto dentro do Brasil quanto com outros países, para identificar todos os elos da cadeia produtiva. Eles descobriram que não apenas as exportações, mas também a demanda interna por produtos e insumos, impactam de maneira relevante os recursos naturais da Amazônia.

Literatura científica tem colocado grande ênfase nas exportações para outros países de itens produzidos na Amazônia; pesquisa identificou origem das demandas que pressionam desmatamento dentro do Brasil – Foto: Vinícius Mendonça/Ibama

As conclusões do estudo foram publicadas em um artigo no site Nature Sustainability. Com base nos resultados, os autores recomendam ampliar as ações de rastreamento da produção agropecuária na Amazônia, atualmente limitadas a grandes empresas, para incluir também os pequenos produtores, com o objetivo de mapear os impactos do desmatamento.

“O principal objetivo da pesquisa foi mapear e quantificar, do lado da demanda, as principais pressões econômicas sobre o desmatamento da Amazônia Legal”, afirma o professor Eduardo Haddad, da FEA, primeiro autor do artigo. “A grande novidade que introduzimos foi a capacidade de identificar geograficamente a origem dessas pressões, seja do mercado interno, da própria Amazônia, ou do restante do País. As demandas geradas exercem pressão direta e indireta sobre o desmatamento.”

Haddad explica que, embora a literatura científica tenha dado grande ênfase à demanda externa, principalmente exportações de produtos agropecuários, o estudo revelou o papel crítico da demanda interna, especialmente do Centro-Sul do Brasil, na pressão sobre o desmatamento. “O grande resultado da pesquisa é mostrar a relevância das relações entre a Amazônia e o restante do Brasil na pressão sobre os recursos naturais”, conclui.

Na série de mapas da Amazônia, as cores mais escuras indicam maiores índices de densidade regional do Produto Interno Bruto (A), desmatamento (B), emissões de gás carbônico (C), exportações domésticas (D), exportações para o exterior (E) e total de exportações (F) – Imagem: extraída do artigo

Por meio de uma abordagem sistêmica, os pesquisadores mapearam as relações de compra e venda em diferentes regiões, dentro e fora da Amazônia, e em outros países, obtendo uma visão abrangente da cadeia de valor. “Assim, conseguimos identificar como a demanda gerada, por exemplo, em São Paulo, influencia direta ou indiretamente o desmatamento”, relata Haddad. “Diretamente, através da demanda por produtos finais, como os da agricultura e pecuária, e indiretamente, através do uso de insumos da floresta que possam pressionar mudanças no uso da terra.”

“Analisando a cadeia produtiva e os efeitos sistêmicos pelo lado da demanda, conseguimos enxergar todos os elos que levam ao desmatamento”, enfatiza Haddad. “Por isso, sugerimos ampliar o rastreamento dos fornecedores, para garantir práticas ambientalmente saudáveis, especialmente entre os pequenos produtores, e evitar que o problema persista.”

Outra questão abordada no artigo, relacionada a políticas públicas, é o impacto potencial da Reforma Tributária, que pode pressionar os recursos naturais ao desonerar exportações e conceder isenções a produtos agrícolas, caso não haja rastreamento ou fiscalização adequados. Por outro lado, a reforma pode gerar recursos adicionais para fundos de desenvolvimento regional focados em ações de adaptação e mitigação visando políticas de desmatamento zero.

O estudo contou com a participação de Inácio Araújo, pós-doutorando, Ademir Rocha e Karina Sass, pesquisadores associados do Núcleo de Economia Regional e Urbana (Nereus) da USP, além de Fernando Perobelli, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Também colaboraram no estudo Rafael Feltran Babieri, economista do World Resources Institute Brasil (WRI Brasil), e Carlos Nobre, coordenador do projeto e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.

Para mais informações, entre em contato com o professor Eduardo Haddad pelo e-mail ehaddad@usp.br.

Fonte: Jornal da USP


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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