O Cerrado
Situado no coração do país, o Cerrado ocupa uma área de de mais de 2 milhões de km² e detém cerca de 5% da biodiversidade mundial. A área core (ou nuclear) do bioma está localizada no Planalto Central brasileiro, assim, ele desempenha um papel fundamental no processo de distribuição dos recursos hídricos pelo Brasil e outros países da América do Sul, constituindo-se o local de origem das grandes regiões hidrográficas brasileiras e do continente sul-americano, fenômeno apelidado de “efeito guarda-chuva”. Seis das principais bacias hidrográficas brasileiras são abastecidas por águas do Cerrado (Amazônica, Araguaia/Tocantins, Atlântico Norte/Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná/Paraguai), nele ainda estão localizados três dos principais aquíferos do país: Bambuí, Urucuia e Guarani.
A crise hídrica enfrentadas em locais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Goiás é muito influenciada pela devastação do Cerrado e má gestão de seus recursos hídricos. A água que sai da sua torneira tem grandes chances de ser do Cerrado!
O Cerrado abriga ainda uma grande variedade de povos e comunidades tradicionais, que nele vivem há mais de 12 mil anos (milhares de anos antes dos europeus pisarem por essas bandas). São mais de 80 etnias indígenas-Xavantes, Kraô-Kanela, Tapuias, Guarani Kaiowá, Terena, Xacriabas, Apinajé, Avá-Canoeiros-, pescadores, ribeirinhos, quilombolas, quebradeiras de coco, retireiros do Araguaia, agricultores familiares, geraizeiros, dentre muitos outros. Detentores de culturas ancestrais, esses povos e comunidades convivem em harmonia com o Cerrado, o conservam e respeitam, a relação deles com o bioma é tão estreita que é a natureza que dita suas culturas, seus modos de vida, os ciclos de plantio, a alimentação e seus conhecimentos.
Os povos e comunidades tradicionais do Cerrado atuam como verdadeiros guardiões da água e da biodiversidade.
Apesar de tamanha importância ecológica, social e econômica, a devastação da cobertura vegetal já chega a 52% do território do Cerrado e está comprometendo nascentes, rios e riachos. Ao se eliminar a vegetação, também se elimina os mananciais, a infiltração de água para o lençol freático e aquíferos também é drasticamente reduzida. Os povos e comunidades tradicionais vivem hoje na possibilidade da perda de suas terras e de suas vidas sob constante pressão por parte do governo e do agronegócio, como ocorre, por exemplo, com os índios da etnia Guarani-Kaiwá que vivem sob ataques quase diários aos seus direitos e suas vidas. A extinção desses povos significaria a morte do resto que ainda sobra do Cerrado.
A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado
O Professor Doutor em Geografia da Universidade Estadual de Goiás, Murilo Mendonça Oliveira Souza, é coordenador o grupo Gwatá-Núcleo de Agroecologia e Educação no Campo, uma das organizações e entidades que apoiam a campanha, concedeu uma entrevista por e-mail ao Florestal Brasil e nos enviou um breve texto em que explica o que é esse movimento em prol do Cerrado:
“A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, lançada em 2016, tem como objetivo valorizar a biodiversidade e as culturas dos povos e comunidades desse bioma, lutando pela garantia de sua preservação. Surgiu com a preocupação de alertar a sociedade para os impactos que a destruição do Cerrado causam no Brasil.
A água é o mote principal da Campanha (Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida), pois o Cerrado tem papel central no abastecimento de água no país. O bioma mantém três grandes aquíferos (Guarani, Bambuí e Urucuia) e é responsável pela formação e alimentação de grandes rios do continente, como o São Francisco, o Tocantins e o Araguaia.
São objetivos da Campanha: Pautar e conscientizar a sociedade sobre a importância do Cerrado e os impactos dos grandes projetos do agronegócio, da mineração e de infraestrutura; Dar visibilidade à realidade dos Povos do Cerrado, como representantes da sociobiodiversidade, conhecedores e guardiões do patrimônio ecológico e cultural dessa região; Fortalecer a identidade dos Povos do Cerrado, envolvendo a população na defesa do bioma e na luta pelos seus direitos; Manter intercâmbio entre as comunidades do Cerrado brasileiro com as comunidades de Moçambique, na África, impactadas pelos projetos do Programa Pró-Savana.
Uma das principais ações da Campanha neste momento é a realização de Petição para pressionar a Câmara dos Deputados a votar pela aprovação da PEC 504/2010, que transforma o Cerrado e a Caatinga em Patrimônio Nacional. Os biomas Cerrado e Caatinga precisam da mesma proteção que a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica já possuem. Se o Congresso aprovar a lei que transforma o Cerrado e a Caatinga em Patrimônio Nacional, teremos mais força para impedir o desmatamento e o genocídio de nossos povos.”
Como apoiar?
Acesse o site da campanha e fique por dentro: clique aqui leia mais sobre a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado
Assine e compartilhe essa Petição para pressionar a Câmara dos Deputados a votar pela aprovação da PEC 504/2010, que transforma o Cerrado e a Caatinga em Patrimônio Nacional: clique aqui e acesse site para assinar a petição
*Agradecemos ao Professor Dr. Murilo Mendonça Oliveira Souza pela contribuição ao site Florestal Brasil.
Fontes: Site da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, Gwatá – Núcleo de Agroecologia e Educação no Campo
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