Nos anos 1980, um estudante de zoologia e botânica na China vivenciou uma educação imersiva em biodiversidade. Durante uma viagem de campo, aprendeu sobre o “capim-ganso”, erva daninha conhecida pela dificuldade de ser retirada devido às suas raízes profundas, o que lhe rendeu o apelido de “burro Dunzhao”. A experiência reforçou a importância da taxonomia – a ciência de classificar organismos – essencial para a conservação da biodiversidade.
Contudo, desde então, o ensino da taxonomia sofreu um declínio, com a redução das horas de estudo de botânica e zoologia em universidades chinesas e a diminuição das viagens de campo por falta de financiamento. O problema não é exclusivo da China. No Reino Unido, o financiamento para projetos taxonômicos caiu drasticamente nos anos 1990, sendo substituído por áreas como biologia molecular. Na Europa, taxonomistas se aposentam sem reposição, enquanto em países de baixa e média renda, que abrigam hotspots de biodiversidade, a escassez de talentos locais é alarmante.
Esse desinvestimento agora mostra seus custos. Iniciativas de biodiversidade enfrentam dificuldades para encontrar especialistas qualificados. Na China, centenas de pesquisas de fauna e flora sofrem para recrutar taxonomistas. Qiao Gexia, da Academia Chinesa de Ciências, expressou preocupação sobre a falta de estudos de táxons importantes, como cupins, cruciais para os ecossistemas.
A falta de conhecimento taxonômico tem gerado erros, como o caso em 2022, quando um peixe comum foi erroneamente identificado como ameaçado de extinção no rio Xiaoqing, na China. A manutenção desse conhecimento é vital para evitar que espécies desapareçam.
O recém-lançado Fundo de Biodiversidade de Kunming, criado para apoiar a conservação global, poderia desempenhar um papel fundamental na educação sobre biodiversidade. Com um investimento inicial de 1,5 bilhão de yuans (US$ 210 milhões), o fundo visa ajudar países a alcançar as metas do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal. No entanto, a educação ainda não foi mencionada como foco, o que é visto como uma oportunidade perdida.
Especialistas defendem que 10% do orçamento anual do fundo seja destinado à educação taxonômica, especialmente em países de baixa e média renda, onde o conhecimento local é crucial para a conservação da biodiversidade. A formação de novas gerações de taxonomistas seria fundamental para garantir a continuidade dos esforços de preservação, especialmente em nações que sofrem com a falta de especialistas.
Com a conferência de biodiversidade da ONU COP16 se aproximando, a inclusão da educação nas discussões sobre conservação é vista como uma prioridade para o sucesso a longo prazo. Afinal, sem uma nova geração de especialistas, o risco para as espécies ameaçadas só aumenta.
Fonte: Nature.
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