Deixar de usar papel vai salvar as florestas do desmatamento?

Muita gente sabe que o papel que nós usamos diariamente é feito através da celulose extraída das árvores, e essa é uma técnica bem antiga que vem sendo aperfeiçoada desde o século 18, porém ainda existem muitos aspectos envolvidos na produção deste material que talvez seja um dos mais utilizados no nosso dia-dia.

Foto: Rogerio Albuquerque / Editora Globo)

Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro declarou em seu Twitter que a medida provisória  que permite que balancetes das empresas brasileiras possam ser publicadas online irá contribuir para redução do desmatamento, já que as árvores que seriam usadas pra produzir o papel dos jornais e documentos utilizados seriam poupadas.


Entretanto, o presidente não leva em conta que as árvores que figuram na lista do desmatamento não são as mesmas que são utilizadas para produção de papel, já que 100% do papel que utilizamos vem de florestas plantadas de Eucalipto e Pinus.
Mesmo assim, o discurso do presidente gerou diversos aplausos dos presentes e compartilhamentos de apoio nas redes sociais.

 Sistema de Gestão de Licenças Ambientais

  O que não é de se surpreender já que muitas pessoas continuam associando o desmatamento à produção de papel e a frase “antes de imprimir, pense no meio ambiente” continua na moda e nas assinaturas de vários e-mails corporativos.                                  

A expressão causa impacto, cria a ilusão de um forte compromisso ambiental e ainda deixa um peso na consciência pelo uso do papel. O que poucos sabem é que o papel de florestas plantadas e seu consumo não prejudicam o meio ambiente. (Pelo menos não da forma como é apresentado pela maioria das pessoas) 

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Foto: NewGeneration Plantation

O papel vem da árvore sim, mas não desmata florestas nativas, pelo contrário: as árvores plantadas, geralmente Eucalipto, e  na sua maioria em áreas degradadas previamente pela ação do homem, e contribuem para preservar a biodiversidade por meio de técnicas como o plantio em mosaicos, no qual árvores para fins industriais se intercalam com as nativas, criando corredores ecológicos.

Até mesmo a colheita é feita de forma pensada, com resíduos das árvores (cascas e folhas), sendo deixados no local para conservar a qualidade do solo.

Dessa forma, o setor de florestas plantadas atua rigorosamente na proteção ao meio ambiente, preservando uma parte da mata nativa para cada hectare cultivado para fins industriais. 

Outro ponto que atesta para a sustentabilidade das indústrias de papel e celulose que o mercado consumidor tem exigido que todos os produtos de papel e derivados de papel como embalagens de alimentos, caixas de papelão, tenham certificação de origem como as do FSC, por exemplo. 

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A Klabin por exemplo, possui em apenas uma de suas unidades cerca de 130 mil hectares de reflorestamento
produtivo e mantém 110 mil hectares de mata preservada.


Do ponto de vista econômico o Brasil também é motivo de destaque na produção de celulose. Esse ano, a Suzano e a Fibria, as duas maiores empresas de celulose do Brasil, e que estão entre as maiores do mundo, foram fundidas, e hoje contam com uma capacidade de produção de 11 milhões de toneladas de celulose e 1,4 milhões de toneladas de papel por ano, que são exportados para mais de 80 paises e gera um faturamento de 26 bilhões por ano. O grupo possui 11 fabricas no Brasil e gera mais de 37 mil empregos diretos e indiretos.

Fabrica da Suzano em SP

Nasce uma gigante: após começo de ano sem brilho, fusão Suzano-Fibria pode impulsionar ações na Bolsa? – InfoMoney
Veja mais em: https://www.infomoney.com.br/suzanoholding/noticia/7869647/nasce-uma-gigante-apos-comeco-de-ano-sem-brilho-fusao-suzano-fibria-pode-impulsionar-acoes-na-bolsa
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As florestas cultivadas de forma sustentável por indústrias de papel, celulose e painéis de madeira retiram quantidade significativa de CO2 da atmosfera, gás que permanece armazenado nos produtos derivados dessas árvores. Apenas em 2014, os 7,7 milhões de hectares plantados foram responsáveis pelo estoque de cerca de 1,7 bilhão de toneladas de dióxido de carbono.


Assim, as empresas que utilizam árvores plantadas se tornaram referência mundial e, por usar matéria-prima de origem renovável, a indústria não gera grande quantidade de resíduos perigosos. O papel é, em realidade, um produto sustentável, feito com fontes renováveis certificadas e que gera benefícios para o meio ambiente por meio da mitigação das emissões de carbono e reciclagem.

Da madeira à folha 
Mas como é fabricado o papel que usamos nas nossas impressoras e documentos?
Processo de fabricação do papel começa com um “cozido” de lascas de árvores
1 – A principal matéria-prima para a produção de papel são toras de madeira. Nas fábricas, após serem cortadas, elas passam por um descascador e picador, de onde saem na forma de pequenos cavacos (lascas)

2 – Num tanque chamado digestor, os cavacos são cozidos dentro de um líquido composto por água e alguns agentes químicos, como sulfitos. O resultado desse cozimento é chamado de polpa

3 – A polpa passa por um processo de lavagem, em tanques e centrífugas, onde são extraídos os cavacos que não se dissolveram e outras impurezas. Depois, ela é deixada em repouso em outros tanques, numa etapa chamada de branqueamento, para separar a celulose de outros resíduos

4 – Os restos não aproveitados de madeira são queimados em caldeiras e transformados em energia elétrica em turbogeradores a vapor. A energia gerada aqui alimenta o próprio processo de fabricação do papel

5 – A polpa de celulose, ainda com alto teor de água, passa por uma máquina chamada mesa plana, que transforma essa massa úmida em uma grande folha contínua e lisa, pousada sobre uma esteira rolante de feltro 

Estoque de celulose na unidade de Três Lagoas (MS) da Fibria
Danilo Verpa-05.set.2012

6 – A grande folha, movida pela esteira rolante, passa por rolos de prensagem e secagem com ar quente, que retiram o excesso de água, compactam o papel e alisam a folha. Dependendo do tipo de produto que se quer, ela ainda passa pelo coater (revestidora), um rolo que aplica uma película que protege ou dá brilho ao papel – como no caso do cuchê, por exemplo

7 – Finalmente, a folha passa por um aparelho chamado enroladeira e por rolos de rebobinagem, onde o papel se descola da esteira rolante e forma enormes rolos – ou bobinas -, estando pronto para o corte e o empacotamento 

O canal Manual do Mundo fez à Fábrica da Suzano em SP e mostrou as diversas etapas de produção.


 

Fontes:CIF Florestas / InfoMoney / SuperInteressante /


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Lucas Monteiro

Engenheiro Florestal com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Perícia e Auditoria ambiental . Formação de Auditor nos sistemas ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001 e FSC® (FM/COC). Experiência em Due Diligence Florestal, mitigação de riscos ambientais e Cadeia de suprimentos da Madeira para mercados internacionais (EUDR e Lacey Act).

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