A COP30, que ocorrerá em Belém em novembro de 2025, será uma arena para testar o grau de comprometimento dos países com manutenção da possibilidade de vida no planeta nas próximas gerações. Em Bonn (Alemanha), o presidente da cúpula, André Aranha Corrêa do Lago, deixou claro que o foco do evento será na implementação das promessas climáticas feitas nos últimos anos, ao invés de novos compromissos. Essa abordagem pode ser tanto uma solução pragmática quanto uma revelação da dificuldade de implementar o que já foi acordado. Em um momento em que a crise climática exige ação concreta, as promessas não cumpridas ainda pesam demais.
O Brasil, como país anfitrião, tem uma grande responsabilidade em fazer com que os compromissos feitos em cúpulas anteriores se tornem realidade. Nos últimos dez anos, mais de 400 iniciativas foram adotadas em encontros como a COP21, COP22 e COP28. No entanto, como bem apontado pelo nomeado “campeão climático de alto nível”, Dan Ioschpe, a implementação dessas metas tem sido aquém das expectativas. O foco da presidência na implementação e no cumprimento de compromissos anteriores, como a transição para fontes de energia mais limpas e a redução da dependência dos combustíveis fósseis, é uma escolha acertada, embora desafiadora.
O ponto central dessa postura é que, antes de fazer novas promessas, é preciso focar nas soluções já em andamento e resolver os gargalos que impedem a concretização desses compromissos. A tentativa de fazer um fundo climático durante a COP29, que acabou sendo cancelada, é um exemplo claro de como as boas intenções podem ser facilmente enfraquecidas pela falta de vontade política e pela ausência de uma estrutura real de execução.
Metas ambiciosas, mas reais
Os resultados do estudo denominado de Lacuna da Adaptação Climática 2023 – um levantamento da ONU que revelou como os governos estão falhando em cumprir suas metas climáticas – tornou ainda mais evidente a discrepância entre discurso e ação. Entre os compromissos globais, destaca-se a promessa de triplicar a capacidade de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030. Embora essas metas sejam ambiciosas, sua implementação depende de fatores como políticas públicas eficazes, investimentos em tecnologias limpas e, acima de tudo, um consenso internacional que, até o momento, tem sido difícil de alcançar.
No entanto, essa é a realidade da COP30. O país anfitrião, com a liderança de figuras como Ana Toni e André Corrêa do Lago, parece disposto a oferecer um novo formato para a cúpula, com “eixos temáticos” que incluem, entre outras questões, a transição energética, a gestão de resíduos sólidos e o combate à desinformação climática. Esta estrutura, que incluirá pavilhões físicos dedicados a cada eixo, oferece uma oportunidade para envolver todos os setores da sociedade – do governo às empresas e organizações civis – em uma discussão mais aprofundada sobre soluções práticas e viáveis para o futuro.
No entanto, a verdadeira questão em jogo é se esses eixos temáticos serão apenas mais uma plataforma de discussões que, como tantas outras, não levarão a resultados concretos. A pressão é grande, especialmente após críticas de grupos como a Greenpeace, que exigem um plano de ação global para interromper e reverter a destruição das florestas tropicais. Desde o compromisso assumido pelos governos em 2023, a perda de florestas primárias tropicais só aumentou. Ou seja, o tempo para ações simbólicas se esgotou. O setor florestal, especialmente na Amazônia, precisa de medidas mais assertivas, que vão além das promessas vazias.
Hora de agir!
A COP30 tem a missão de não apenas discutir, mas de cumprir. Como profissionais do setor florestal, é nosso papel cobrar soluções práticas e mecanismos de implementação viáveis. Não podemos continuar a nos basear em promessas. Devemos, sim, exigir que as iniciativas propostas se tornem ações concretas, com prazos e responsabilidades bem definidos. Isso implica em um maior envolvimento de todos os stakeholders, desde as empresas florestais até as comunidades tradicionais, passando por todos os setores da sociedade que têm impacto na preservação dos recursos naturais.
O Brasil, ao sediar a COP30, tem uma oportunidade única de ser líder não apenas nas discussões, mas na implementação de soluções para a crise climática. As florestas brasileiras, especialmente a Amazônia, são parte essencial dessa resposta global. Se não conseguirmos implementar o que já foi acordado, qualquer novo compromisso será apenas mais uma promessa vazia.
É hora de transformar compromissos em resultados. A COP30 não pode ser mais uma cúpula em que os discursos se perdem no caminho da ação. O futuro do planeta depende das ações concretas que tomarmos agora.
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