COP30 dia 3: justiça social, empregos verdes e novas narrativas climáticas em Belém

O terceiro dia da COP30, nesta quarta-feira (12 de novembro), trouxe um novo eixo de debate à conferência: a justiça climática e a dimensão social da transição ecológica.

Depois de dois dias focados em adaptação e financiamento, Belém viveu uma jornada marcada por discursos sobre desigualdade, cultura e inclusão de povos indígenas e tradicionais — mostrando que o clima é também uma questão de direitos humanos e oportunidades econômicas.

COP30 dia 3
Indígenas chegam ao Acampamento Indígena no dia da cerimônia de abertura da Cop30. Fotografia: Anderson Coelho/Reuters

Justiça climática e transição justa no centro das discussões

O dia começou com o Painel Ministerial sobre Justiça Climática, que reuniu ministros do Meio Ambiente, Trabalho e Desenvolvimento Social de diversos países. A tônica foi clara: não há neutralidade de carbono sem equidade social. O conceito de transição justa — central nas negociações trabalhistas e sindicais — voltou com força, ligando a agenda ambiental à geração de empregos e ao desenvolvimento de novas competências profissionais.

A ONU apresentou um relatório preliminar indicando que a transição para economias de baixo carbono pode gerar até 30 milhões de novos empregos até 2030, especialmente em setores como energia renovável, florestas, agricultura regenerativa e construção sustentável.

Para o Brasil, o debate reforça o potencial da bioeconomia amazônica e das cadeias florestais sustentáveis como pilares para uma economia inclusiva, que alia conservação e renda local.

COP30 Dia 2: adaptação climática, transparência e ação concreta em Belém

Povos indígenas e adaptação baseada na cultura

Durante a tarde, o evento Voices of the Forest – Indigenous Adaptation Strategies reuniu lideranças indígenas da Amazônia, da América Central e de países africanos. Os representantes apresentaram projetos de manejo comunitário, recuperação de áreas degradadas e monitoramento territorial via tecnologias locais, defendendo a valorização de saberes tradicionais como instrumentos de adaptação climática.

A ministra Sonia Guajajara destacou que o reconhecimento dos povos indígenas como protagonistas da ação climática é essencial para que as metas da COP30 tenham legitimidade. Ela lembrou que a floresta em pé garante não apenas carbono estocado, mas também modos de vida, identidade e segurança alimentar para milhões de pessoas.

Empregos verdes e qualificação profissional

O Green Jobs and Skills Forum, realizado em parceria com a OIT e o PNUMA, apresentou o Plano Global de Capacitação Verde, que visa integrar educação técnica e ambiental nas políticas de trabalho. Empresas e governos foram convidados a investir em formação para empregos verdes, com destaque para florestas, energias limpas e reciclagem industrial.

O Brasil anunciou que pretende incluir o tema da qualificação socioambiental no Plano Nacional de Transição Justa, conectando escolas técnicas e universidades a projetos de bioeconomia regional — uma oportunidade direta para engenheiros florestais, técnicos ambientais e operadores da cadeia madeireira certificada.

Cultura e narrativa climática

O espaço cultural Amazônia de Todos recebeu o evento “Climate Stories: Changing Narratives for a Changing World”, com artistas e comunicadores discutindo como a linguagem e as imagens podem mudar percepções sobre o clima.
Belém se consolida, assim, não apenas como sede de negociações, mas como um laboratório simbólico da nova narrativa amazônica — onde o clima é contado por quem vive a floresta, e não apenas por quem a observa.

Essa dimensão cultural foi reforçada pela presença de representantes da UNESCO e de secretarias de cultura de vários países, que defendem o patrimônio cultural como vetor da ação climática.

Tensões políticas e manifestações

Apesar do clima propositivo, o dia foi marcado por manifestações pacíficas de grupos indígenas e movimentos sociais nas imediações do Hangar Convenções, onde ocorre a conferência.
As reivindicações incluem o fortalecimento de direitos territoriais e o combate à criminalização de defensores ambientais.

Fontes internacionais destacaram que essas tensões refletem o contraste entre o discurso diplomático e a realidade local: enquanto Belém discute financiamento climático, comunidades amazônicas ainda enfrentam invasões e desmatamento em ritmo elevado.

Relevância para o setor florestal

Os debates do dia 3 reforçam que a sustentabilidade deixou de ser apenas técnica: ela é também social, laboral e cultural.
Para o setor madeireiro e florestal, isso significa que a rastreabilidade e a certificação precisam andar lado a lado com políticas de inclusão, capacitação e valorização do território.
Empresas que atuam com cadeia de custódia FSC e PEFC, por exemplo, poderão alinhar seus programas de responsabilidade social à agenda de empregos verdes e justiça climática lançada nesta COP30.

A nova fase da economia florestal deve equilibrar eficiência produtiva, geração de renda local e respeito aos saberes tradicionais — uma condição cada vez mais observada por importadores e organismos internacionais.

O que vem a seguir

O quarto dia da COP30 deverá concentrar-se em três temas principais:

  • Financiamento climático e instrumentos de crédito verde;
  • Governança dos mercados de carbono e integridade ambiental;
  • Políticas públicas para a Amazônia e acordos intersetoriais sobre bioeconomia.

Belém se prepara para receber uma série de anúncios sobre fundos multilaterais, e o governo brasileiro deve apresentar, ainda esta semana, novos compromissos de cooperação técnica com países amazônicos.

Conclusão

O terceiro dia da COP30 mostrou que a transição ecológica é, acima de tudo, uma transição social.
A pauta ambiental está agora diretamente ligada à geração de trabalho, educação, cultura e valorização dos povos tradicionais.
Belém se consolida como o símbolo dessa virada — uma conferência que busca unir economia, floresta e justiça em um mesmo projeto de futuro.

Fontes consultadas:

 


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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