O segundo dia oficial da COP30, realizado nesta terça-feira (11 de novembro) em Belém (PA), consolidou o tom da conferência: a transição da ambição para a implementação. Após uma abertura marcada por discursos políticos e promessas de financiamento, o foco agora se volta para ações concretas de adaptação climática, cooperação local e uso de tecnologias verdes.

Água, habitação e alerta precoce como pilares da adaptação
A manhã começou com uma série de eventos paralelos voltados à resiliência urbana e hídrica.
O painel Waters of Change – Shaping Resilient and Sustainable Pathways destacou a água como elemento central da política climática global. Governos e agências multilaterais anunciaram novos investimentos para projetos de infraestrutura hídrica, restauração de bacias e gestão integrada de recursos.
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Durante a sessão “Scaling Early Warnings for All”, a ONU reforçou o compromisso de ampliar os sistemas de alerta precoce (Early Warning for All) em países vulneráveis. O objetivo é garantir que toda a população mundial esteja coberta por sistemas de prevenção contra desastres até 2027.
Outro ponto de destaque foi o lançamento da Global Transformation Agenda on Water Investments, que prevê mobilizar até US$ 20 bilhões até 2030 para projetos de resiliência climática na América Latina e Caribe.
O debate sobre habitação sustentável também ganhou espaço, com a reunião do Intergovernmental Council for Buildings and Climate (ICBC). O grupo lançou a Belém Call for Action for Sustainable and Affordable Housing, documento que propõe estratégias de descarbonização e eficiência energética em edificações, com atenção especial a países em desenvolvimento.
Relevância para o setor florestal: o avanço dessas pautas abre oportunidades para o uso de madeira certificada em construções sustentáveis, fortalecendo a bioeconomia e a valorização de produtos de origem florestal manejada.

Adaptação climática deixa de ser tema secundário
A pauta da adaptação ganhou protagonismo. Representantes de países vulneráveis enfatizaram que o tema deve ter o mesmo peso da mitigação nas negociações internacionais.
Segundo estimativas apresentadas em Belém, as nações em desenvolvimento precisarão de até US$ 310 bilhões anuais até 2035 para financiar ações de adaptação – valor muito acima dos fluxos atuais de investimento climático.
A presidência brasileira da COP30 reforçou que esta deve ser a “COP da Implementação”, onde a adaptação é tratada como investimento estratégico. O conceito de Soluções Baseadas na Natureza (NBS) foi amplamente discutido, ressaltando o papel de florestas, manguezais e sistemas agroflorestais na proteção contra eventos climáticos extremos.
Para o Brasil e o setor florestal, essa ênfase cria um ambiente favorável para projetos de restauração ecológica, manejo adaptativo e reflorestamento com espécies nativas, que poderão se enquadrar como ações de mitigação e adaptação reconhecidas internacionalmente.
Primeiro dia da COP30: discursos fortes, cobrança e realidade em Belém
Governança multinível, transparência e mercados de carbono
A segunda-feira também foi marcada por avanços nos mecanismos de governança e transparência climática.
O evento Together4Transparency celebrou dez anos de implementação do acordo de transparência do UNFCCC, reforçando que a credibilidade das metas climáticas depende da qualidade dos relatórios e do monitoramento dos compromissos assumidos.
Segundo o relatório de síntese das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), 113 países já apresentaram suas metas atualizadas, e as emissões globais tendem a cair 12% até 2035 em relação a 2019, sinalizando um possível ponto de inflexão na curva de aquecimento global.
Ouça:
Os mercados de carbono também voltaram ao debate, especialmente no contexto do Artigo 6 do Acordo de Paris. Discussões técnicas abordaram critérios de integridade, adicionalidade e credenciamento de projetos de compensação, temas cruciais para a credibilidade dos créditos de carbono.
Impacto esperado: para o setor madeireiro, isso significa maior necessidade de rastreabilidade, mensuração e reporte. Sistemas como o Sinaflor+ e o Sisflora ganham relevância, e projetos de manejo florestal poderão se beneficiar de mercados de carbono se comprovarem integridade e transparência em suas operações.
Tensões políticas e cobranças internacionais
Embora o tom geral seja de execução, as tensões políticas continuam evidentes.
A Coalition of Small Island States (AOSIS) declarou que o limite de 1,5 °C é uma “linha de vida” para os países insulares e não pode ser relativizado. A ausência de representantes de alto escalão dos Estados Unidos foi novamente criticada, vista como sinal de fragilidade da liderança climática global.
Para o Brasil, anfitrião da COP30, o segundo dia reforçou a posição de liderança, mas também trouxe maior escrutínio internacional sobre o combate ao desmatamento e a coerência entre discurso e prática nas políticas de uso da terra e bioeconomia amazônica.
O que vem a seguir
Os próximos dias da conferência devem concentrar debates sobre:
- Financiamento climático e transferência de tecnologia – com anúncios esperados durante a sessão “Means of Implementation” (12 de novembro);
- Natureza e soluções baseadas na natureza, com foco no fundo Tropical Forests Forever Facility (TFFF);
- Mercados de carbono e integridade ambiental, a partir da evolução das negociações do Artigo 6;
- Reforço da cooperação regional, especialmente entre países amazônicos e africanos na gestão de florestas tropicais.
O segundo dia da COP30 deixou claro que a fase das promessas está chegando ao fim. A agenda agora exige execução, transparência e integração entre níveis de governo e setores produtivos.
Para o Brasil e o setor florestal, o desafio é alinhar-se a essa nova etapa: mostrar resultados concretos, promover manejo sustentável e participar ativamente da economia climática global.
Fonte: COP30 Official Website – Morning Brief (11/11/2025); UNFCCC – Daily Updates; Reuters – Brazil’s adaptation and finance package; The Guardian – COP30 Live Coverage.
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