COP30 anuncia Janja e ex-primeira-ministra da Nova Zelândia como enviadas especiais

A nomeação de figuras públicas como a primeira-dama Janja da Silva e a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern como “enviadas especiais” ilustra essa tendência de priorizar a imagem sobre a substância. 

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), marcada para novembro em Belém do Pará, está se moldando mais como um evento midiático do que como um fórum efetivo para discussões climáticas. A nomeação de figuras públicas como a primeira-dama Janja da Silva e a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern como “enviadas especiais” ilustra essa tendência de priorizar a imagem sobre a substância.

Enquanto o governo brasileiro investe bilhões em infraestrutura para a conferência, incluindo a construção de hotéis de luxo e avenidas que atravessam áreas protegidas da Amazônia, questões fundamentais permanecem negligenciadas. Belém, por exemplo, enfrenta desafios significativos, como a falta de saneamento básico para grande parte de sua população.

Além disso, as metas climáticas apresentadas pelo Brasil, que visam reduzir as emissões de gases de efeito estufa em até 67% até 2035, têm sido criticadas por especialistas por sua falta de ambição e por não abordarem adequadamente a exploração contínua de combustíveis fósseis.

METAS INSUFICIENTES

Anunciada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin na COP29, no Azerbaijão, a meta climática do Brasil, conhecida como NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), foi alvo de severas críticas de ambientalistas e especialistas. A proposta prevê reduzir entre 850 e 1.050 megatoneladas de emissões de gases de efeito estufa, o que equivale a uma redução de 59% a 67% em relação a 2005.

Contudo, a meta é considerada insuficiente para limitar o aquecimento global a 1,5ºC, objetivo crucial para evitar desastres climáticos irreversíveis, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Além disso, a NDC falha em comprometer-se com o fim do desmatamento até 2030 e com a interrupção da expansão de combustíveis fósseis, pontos essenciais para uma agenda climática ambiciosa.

Enquanto alguns aspectos, como metas de adaptação, foram bem recebidos, a falta de ousadia no combate às mudanças climáticas ameaça a credibilidade brasileira na COP30. Outro ponto de incerteza é a escolha do presidente da COP30, responsável por mediar negociações entre países.

A realização da COP30 em Belém deveria ser uma oportunidade para o Brasil demonstrar liderança e compromisso genuíno com a agenda climática. No entanto, as ações até agora indicam uma priorização da imagem internacional em detrimento de políticas ambientais eficazes e inclusivas.

PAUTA CLIMÁTICA OU ECO-TURISMO?

As decisões do governo federal quanto aos representantes e ações relacionadas a COP30 tem sido alvo de críticas por parte dos ambientalistas. O último anúncio da organização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) foi a nomeação da primeira-dama Janja da Silva como uma dos enviados especiais do evento, que são responsáveis por mobilizar setores da sociedade nos debates relacionados ao encontro. A primeira dama aparece como enviada setorial sobre o tema das mulheres.

De acordo com a organização da COP30, os enviados especiais deverão levar à organização do evento as posições das áreas que representam. Além disso, deverão dialogar com esses setores sobre as propostas da organização da COP30.

Janja é frequentemente criticada por sua participação acompanhando o presidente Lula em viagens oficiais, mas também por aproveitar as agendas oficiais do governo para turistar nos paises em que a comitiva presidencial visita. Em 2024, por exemplo, O governo federal pagou R$ 83,4 mil reais em passagens para possibilitar a ida da primeira-dama Rosângela da Silva, a “Janja”, para a abertura da Olimpíada de Paris. O custo foi o segundo mais alto entre todos os funcionários da gestão do presidente da República, no mês de julho. Em março de 2025, Janja viajou em sigilo ao Japão, cinco dias antes de Lula, e além de não divulgar a viagem, a primeira-dama não divulgou o que faria no país durante todos esses dias que antecedem a visita oficial de Lula. Outra viajem de Janja à Rússia quase uma semana antes de Lula tem 18 eventos oficiais com destaque a turismo, ação política e propaganda.

O projeto Varanda de Belém foi criado por Fafá, onde convida artistas para conhecerem o Círio de Nazaré - Foto: Reprodução/Twitter
O projeto Varanda de Belém foi criado por Fafá, onde convida artistas para conhecerem o Círio de Nazaré – Foto: Reprodução/Twitter

Em março deste ano, no entanto, a Advocacia‑Geral da União (AGU) definiu que o cargo de primeira‑dama é de interesse público, cabendo ao Estado arcar com os custos a ele inerentes, incluindo deslocamentos oficiais. O parecer também determinou que suas atividades devem ser conduzidas com total transparência, com divulgação permanente de agendas, tal como ocorre com demais autoridades de alto escalão.

Esse histórico de polêmicas coloca em dúvida o real motivo da ida de Janja e outros indicados à Belém e suas representatividades para as discurssões sobre mudanças climáticas.

Além dela, outros nomes foram anunciados, como o da ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern, a surfista Maya Gabeira Frederico Assis, ex- assessor de Celso Amorim.

Veja abaixo alguns dos enviados especiais para a COP30 já anunciados:

  • Confira alguns dos enviados especiais anunciados:Janja da Silva: primeira-dama do Brasil, enviada para o tema “mulheres”;Jacinda Ardern: ex-primeira-ministra da Nova Zelândia;

    Maya Gabeira: surfista de ondas gigantes e ativista pelo meio ambiente, representante de “esportes”.

    Jurema Werneck: diretora-executiva da Anistia Internacional e ativista dos direitos humanos, a médica atuará no tema “igualdade racial e periferias”;

    Frederico Assis: ex-assessor de Celso Amorim, enviado para Integridade da Informação;

    Adnan Amin: diplomata e economista queniano, foi CEO da COP-28, nos Emirados Árabes Unidos;

    Carlos Lopes: economista atuou como secretário executivo da Comissão Econômica da ONU para a África e atualmente preside o conselho da Fundação Africana para o Clima;

    Jonathan Pershing: participa das negociações climáticas desde a década de 1990;

    Laurence Tubiana: diplomata francesa, foi uma das principais responsáveis pela confecção do Acordo de Paris;

    Patrícia Espinosa: diplomata mexicana, foi secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas e atuou na implementação do Acordo de Paris;

    Xie Zhenhua: representante da China para o tema, atuou em negociações climáticas entre China e Estados Unidos, e no Acordo de Paris.

Além dos nomes citados anteriormente, outros especialistas farão parte do grupo de notáveis anunciado pela COP-30:

  • Denis Minev (setor privado amazônico);
  • Joaquim Belo (sociedade civil amazônica);
  • André Guimarães (sociedade civil);
  • Beto Veríssimo (florestas);
  • Clemente Ganz (sindicatos);
  • Denise Dora (direitos humanos e transição justa);
  • Elbia Gannoum (energia);
  • Ethel Maciel (saúde);
  • Frederico Assis (integridade de informação);
  • Maguy Etlin (cultura e indústria criativa);
  • Marcelo Behar (bioeconomia);
  • Marcello Brito (governos subnacionais amazônicos);
  • Marina Grossi (setor empresarial);
  • Marinez Scherer (oceanos);
  • Paulo Petersen (agricultura familiar);
  • Philip Yang (soluções urbanas);
  • Roberto Rodrigues (agricultura);
  • Sérgio Xavier (Fórum Brasileiro de Mudança do Clima);
  • Sinéia do Vale (povos indígenas).

É essencial que a COP30 vá além do espetáculo e se concentre em ações concretas que enfrentem os desafios climáticos de forma justa e eficaz, especialmente para as comunidades mais afetadas.

Fonte: Terra / Reset / Sagres Online / Veja / Gazeta do Povo


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