Conservação baseada no tamanho de árvores pode falhar na proteção das mais velhas

A conservação focada no tamanho das árvore pode falhar em proteger as árvores mais velhas do mundo, é o que diz um estudo publicado na revista Science em novembro de 2023.

árvores velhas

Árvores antigas representam recursos de conservação inestimáveis, abrangendo uma rica diversidade de valores ecológicos, evolutivos e culturais fundamentais. Estas árvores desempenham um papel vital ao oferecer habitats cruciais para inúmeras espécies de animais e plantas. Além disso, elas representam recursos evolutivos essenciais, capazes de se adaptar a longo prazo em ambientes sujeitos a mudanças rápidas.

Para a humanidade, árvores antigas têm uma importância inegável, proporcionando valores sócio-culturais de grande significado, que incluem aspectos materiais, estéticos e religiosos. No entanto, a realidade atual é que as mudanças ambientais estão causando uma perda generalizada de árvores antigas, e a proteção desses recursos preciosos se torna uma necessidade urgente.

Alguns estudos têm demonstrado que árvores pequenas podem ter mais de milhares de anos, sugerindo que percepções convencionais focadas no tamanho podem prejudicar a eficiência das estratégias atuais de conservação para árvores velhas.

O estudo compilou dados de idade e diâmetro pareados usando registros de anéis de árvores amostrados de 121.918 árvores de 269 espécies em todo o mundo para detectar se o tamanho das árvores é um forte preditor de idade para árvores velhas e se a distribuição espacial de árvores pequenas e velhas difere daquela de árvores velhas grandes.

Os atuais esforços de conservação de árvores antigas estão predominantemente concentrados em árvores de grande porte. Muitas vezes, as pessoas associam a idade das árvores ao seu tamanho, acreditando que árvores maiores são, necessariamente, mais antigas. Essa correlação entre idade e tamanho é especialmente visível em ecossistemas específicos, onde árvores de grande porte são frequentemente definidas como aquelas com um diâmetro à altura do peito (DAP) igual ou superior a 50 centímetros.

Entretanto, essa noção de que árvores grandes são as mais antigas nem sempre se sustenta. Há casos surpreendentes que desafiam essa suposição. Por exemplo, muitas árvores de grande porte, como freixos de montanha com mais de 500 centímetros de DAP, podem ter menos de 500 anos. Em contrapartida, existem árvores antigas de pequeno porte, como o zimbro fenício com 1.140 anos no desfiladeiro de Verdon, na França, que possui apenas 8 centímetros de DAP e 1,5 metros de altura. Ou o cedro branco oriental, com 1.032 anos nas escarpas do Niágara, Canadá, que tem apenas 30 centímetros de diâmetro. A espécie de árvore mais antiga da China, um zimbro Qilian, pode ultrapassar 3.000 anos de idade, mas raramente excede 12 metros de altura. Essas árvores pequenas, mas incrivelmente antigas, que podemos chamar de “pequenas árvores antigas,” correm o risco de serem negligenciadas devido ao seu tamanho discreto.

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Essas árvores pequenas e antigas têm uma característica única: crescimento lento e uma vida útil excepcionalmente longa. Elas investem menos em crescimento de caule e mais em mecanismos de sobrevivência. Isso inclui o desenvolvimento de pequenos condutos de xilema, armazenamento eficiente de nutrientes e uma ênfase maior no crescimento das raízes em detrimento do crescimento do caule. Em ambientes com recursos limitados, como áreas frias e secas, essas árvores priorizam defesas químicas e anatômicas, o que aumenta sua resistência a estresses ambientais e, consequentemente, promove sua longevidade.

Em contraste, as árvores de grande porte, geralmente encontradas em ambientes mais quentes e úmidos, enfrentam desafios significativos, como o estresse hidráulico devido à alta demanda por luz e água. Sua altura elevada e a extensão das copas tornam-nas particularmente vulneráveis a questões hidráulicas e cavitação do xilema.

Essas descobertas ressaltam a necessidade de uma abordagem mais holística para a conservação de árvores antigas. Concentrar-se unicamente no tamanho das árvores pode deixar de proteger efetivamente algumas das árvores mais antigas e valiosas do mundo. Para garantir a preservação de todas as árvores antigas, independentemente do tamanho, é crucial implementar sistemas abrangentes de reconhecimento que levem em consideração não apenas o tamanho, mas também a idade e as características específicas de cada árvore.

Além disso, é urgente a criação de áreas de conservação dedicadas a árvores antigas de pequeno porte, que muitas vezes são encontradas em ambientes desafiadores e precisam de proteção especial. Essas medidas são essenciais para garantir que as árvores antigas continuem a desempenhar seu papel vital na conservação da biodiversidade e na adaptação às mudanças ambientais.

O International Tree Ring Data Bank, o maior banco de dados de anéis de árvores do mundo, tem sido uma ferramenta valiosa para compreender a idade e o tamanho das árvores antigas. Os dados coletados e as análises estatísticas revelam a relação entre idade e tamanho, bem como os fatores ambientais que influenciam a distribuição dessas árvores.

As descobertas revelam que o tamanho das árvores é um indicador fraco da idade das árvores antigas, uma vez que o diâmetro explica apenas 10% da variabilidade total na idade dessas árvores. Em contraste com as árvores de grande porte, que são predominantemente encontradas em ambientes quentes, úmidos e protegidos, as árvores pequenas e antigas são, em sua maioria, situadas em ambientes frios e secos, muitas vezes carecendo de proteção adequada. Essa disparidade evidencia que a abordagem de conservação baseada no tamanho falhou em proteger algumas das árvores mais antigas e valiosas.

Portanto, para a preservação eficaz das árvores antigas, é imprescindível a implementação de sistemas abrangentes de identificação que levem em consideração não apenas o tamanho, mas também a idade e as características específicas de cada árvore. A criação de áreas protegidas projetadas especificamente para árvores antigas de pequeno porte se torna uma necessidade urgente nesse contexto.

Este artigo destaca a necessidade urgente de proteger árvores antigas, independentemente do seu tamanho, e enfatiza o valor das árvores pequenas e antigas em ambientes desafiadores. Compreender melhor a distribuição e os fatores que influenciam essas árvores é essencial para desenvolver estratégias de conservação eficazes e garantir que esses recursos insubstituíveis sejam preservados para as futuras gerações.

Fonte: ScienceDirect


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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