Concentração de metais na foz do Rio Doce aumentou após tragédia, aponta estudo da UFES

Foi um desastre único na história brasileira, quando houve o rompimento da barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco
localizada no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana (MG). A
lama de rejeitos de minério percorreu os cerca de 550 km de distância
entre a cidade mineira e o litoral capixaba, trazendo consequências
sociais, econômicas e ambientais que marcam o meio natural e a vida de
milhares de pessoas desde o dia 5 de novembro de 2015
. Foram liberados no ambiente mais de 60 milhões de metros cúbicos de
rejeitos, que provocaram devastação da vegetação nativa, poluição da
Bacia do Rio Doce e destruição de comunidades. Dezenove pessoas
morreram. O episódio é considerado a maior tragédia ambiental do país.

A pesquisa

Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)
fizeram um estudo para comparar a situação ambiental da foz do Rio Doce
antes e depois da tragédia de Mariana
(MG). De acordo com resultados apresentados, foi constatada a presença
do dobro de ferro, quatro vezes mais de alumínio e três vezes mais
manganês do que havia no local antes da chegada da lama de rejeitos.

A foz do Rio Doce fica no distrito de Regência, que integra o
município de Linhares (ES). A análise de suas águas envolveu oito
pesquisadores, incluindo geólogo, físico, biólogo, oceanógrafo e químico
e resultou em um relatório final de 260 páginas. A pesquisa levou em
conta materiais coletados ao longo de um ano. Durante esse período, oito
amostras colhidas foram analisadas. A média dos resultados encontrados
foi comparada com dados de estudos feitos antes do rompimento da
barragem.
Linhares (ES) - A lama vinda das barragens da Samarco com rejeitos de mineração seguem ao longo do leito do Rio Doce em direção à sua foz, localizada em Regência, Linhares (Fred Loureiro/Secom ES)
Pesquisa constatou índices de ferro, alumínio e manganês na foz do
Rio Doce acima do que era encontrado antes da tragédia de Mariana. Foto
de Fred Loureiro/Arquivo/Secom ES

Saúde humana

Linhares (ES) - A lama vinda das barragens da Samarco com rejeitos de mineração seguem ao longo do leito do Rio Doce em direção à sua foz, localizada em Regência, Linhares (Fred Loureiro/Secom ES)
A água na foz do Rio Doce pode gerar impactos na saúde humana, segundo pesquisadores. Foto: Fred Loureiro/Arquivo/Secom ES
Na opinião de Bastos, a poluição na foz do Rio Doce pode gerar
impactos na saúde humana que só vão surgir daqui a quatro ou cinco anos.
“O risco existe, porque o metal está depositado ali. Quando a água é
captada e tratada, é menos complicado. Agora onde temos pessoas usando
água do rio diretamente, precisa haver um trabalho de informação por
parte do poder público”, avalia.
Tanto o ferro como o manganês são elementos essenciais à vida humana e
devem ser ingeridos em determinada quantidade, enquanto o alumínio não
tem função no organismo do homem, mas os três são considerados tóxicos
em caso de excessos e podem trazer riscos à saúde.
Dos três elementos, o manganês é o que poderia trazer mais problemas
para o homem, de acordo com Marcus Vinícius Polignano, médico e
professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “É um metal
pesado que, em excesso, pode causar efeitos neurológicos. Ele pode
entrar no sistema nervoso e as pessoas apresentarem sintomas parecidos
com Parkinson”, diz.
No entanto, Polignano acredita que não há pessoas usando a água
diretamente do Rio Doce. “Em princípio, ninguém deve beber aquela água
sem tratamento. Hoje as estações de tratamento são capazes de controlar
essas variáveis, desde que os parâmetros não estejam excepcionalmente
fora dos padrões”, disse.

Relatório enviado ao ICMBio

De acordo com o geólogo Alex Bastos, que integrou a pesquisa, o
relatório final foi apresentado na última semana de junho ao Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental
vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.  “É muito importante o
envolvimento das universidades neste tipo de estudo e monitoramento,
para que tenhamos minimamente uma fonte de informação científica que a
sociedade considere mais imparcial e livre de questionamentos”, disse.
Os pesquisadores também fizeram uma análise da população de plânctons
na foz do Rio Doce. Foi constatada que a diversidade de espécies de
zooplânctons teve redução de 40%. Também houve uma grande diminuição na
abundância e no número de espécies dos fitoplânctons, microalgas da base
da cadeia alimentar.
“O trabalho que desenvolvemos buscou entender o ecossistema, o
ambiente como um todo. Não é só medir os teores de metais, mas também
compreender o impacto. Por isso nós analisamos a comunidade planctônica,
que é a base da cadeia alimentar e reflete a alteração da química do
ambiente”, disse Bastos. Segundo o pesquisador, ainda não é possível
precisar o quanto essa situação pode impactar no nível superior da
cadeia alimentar, que incluem os peixes.
Segundo o ICMBio, o estudo servirá de base para articular novas ações
no Rio Doce. O órgão também informa que vai compartilhar o relatório
com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturáveis
Renováveis (Ibama), a Agência Nacional de Águas (ANA), a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Estadual do Meio
Ambiente do Espírito Santo (Iema).

Após quase 2 anos: o crime da Samarco e a justiça

Acesse esses links e veja um pouco de como está a situação da Samarco frente à justiça do estado de Minas Gerais e da justiça federal: Mining – notícias da mineração, EBC – Agência Brasil, BHAZ, G1, STF, Reuters 

 

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