Os macacos-prego, incapazes de quebrar cocos com os dentes ou as mãos, utilizam pedras e troncos como ferramentas para abrir as cascas e se alimentar. Um estudo realizado por pesquisadores da USP durante seis meses observou duas populações desses primatas em parques nacionais do Ceará e de Goiás, analisando sua eficiência na quebra dos cocos. Embora ambos os grupos tenham demonstrado sucesso semelhante, os macacos de Goiás foram significativamente mais eficientes, precisando de três vezes menos batidas para abrir os frutos. No Ceará, observou-se uma diferença na eficiência entre fêmeas e machos.
O estudo foi detalhado em um artigo publicado recentemente no site da revista científica Royal Society Open Science. Tiago Falótico, biólogo e primatólogo da USP, explicou: “Coletamos dados em duas populações de macacos-prego, uma no Cerrado, no Parque Nacional Chapada dos Veadeiros em Alto Paraíso de Goiás, e outra na Caatinga, no Parque Nacional de Ubajara, no Ceará. Também comparamos nossos resultados com os de outras duas únicas populações estudadas anteriormente.”
Falótico acrescentou que, embora fosse conhecido que várias populações de macacos-prego usam ferramentas para quebrar cocos, havia pouca informação sobre a variação no sucesso e na eficiência entre essas populações, relacionadas a fatores ecológicos ou culturais. O estudo buscou preencher essa lacuna, lançando luz sobre esses aspectos fundamentais do comportamento desses primatas.
Ferramentas
Os macacos não conseguem abrir a maioria dos cocos com os dentes ou as mãos, embora possam consumir a polpa externa e, às vezes, perfurar o fruto para beber o líquido. Para acessar o endosperma, a parte branca e sólida rica em gordura e carboidratos, eles dependem do uso de ferramentas. Tiago Falótico explica: “Eles posicionam o coco sobre uma pedra ou tronco, chamado de ‘bigorna’, e utilizam pedras como ‘martelos’ para golpear o fruto repetidamente até quebrá-lo e acessar o alimento, às vezes requerendo dezenas de batidas ou até desistindo.”
Os pesquisadores definiram sucesso quando um coco inteiro foi efetivamente fraturado, permitindo acesso ao endosperma. “Ao registrar todas as tentativas, pudemos calcular a taxa de sucesso. A eficiência foi determinada pelo número de batidas necessárias para quebrar cada fruto. Menos batidas indicavam maior eficiência”, detalha Falótico. “Em nossos modelos estatísticos, controlamos variáveis como o peso do martelo e sexo dos macacos para focar exclusivamente na comparação de sucesso e eficiência.”
Os cientistas descobriram que, embora o sucesso na quebra de cocos seja semelhante entre as populações estudadas, os macacos da Chapada dos Veadeiros são significativamente mais eficientes na quebra dos cocos mais duros, precisando em média três vezes menos batidas para rompê-los. Tiago Falótico, biólogo responsável pela pesquisa, destaca: “Isso indica que além do sucesso, outros fatores como técnica ou seleção dos frutos influenciam na eficiência.”
A análise também revelou diferenças relacionadas ao sexo dos macacos. “Apesar da expectativa de que os machos, geralmente maiores, tivessem mais sucesso e eficiência, não encontramos diferenças na população mais eficiente da Chapada dos Veadeiros. Em Ubajara, por outro lado, observamos diferenças tanto na quebra dos cocos mais resistentes quanto dos menos resistentes”, explica Falótico.
“Aparentemente, fatores como técnica e material das ferramentas podem equilibrar as diferenças de tamanho entre os sexos. Agora nosso objetivo é entender melhor as técnicas de quebra específicas em cada população, incluindo o tipo de golpe utilizado e a forma como seguram as ferramentas, para compreender melhor as variações sexuais. Em Ubajara, também investigaremos se há diferenças entre os sexos nessas variáveis”, ressalta o pesquisador.
Os estudos sobre o uso de ferramentas pelos macacos não apenas oferecem insights sobre os fatores que moldaram esse comportamento na evolução dos primatas, mas também permitem identificar variações não apenas ecológicas, mas também culturais entre as populações estudadas. O trabalho recebeu apoio do Projeto Jovem Pesquisador da Fapesp, com colaboração de pesquisadores da USP e da Unifesp, além do apoio financeiro da National Geographic Society e dos Institutos Max Planck na Alemanha durante a análise e redação do artigo.
Fonte: Jornal da USP
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