Surto de circovírus ameaça projeto da ararinha-azul na Bahia

Sete aves testaram positivo para o vírus no criadouro de Curaçá; ICMBio decretou emergência ambiental e aponta omissão de informações pelas organizações responsáveis.

Sob o sol escaldante da Caatinga, grasnados característicos rasgam os céus de Curaçá, alertando para a chegada de uma das aves mais ameaçadas de extinção do mundo. Rapidamente, passam por cima da cabeça silhuetas de um tom de azul inconfundível. Trata-se da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), espécie que no ano 2000 foi declarada extinta na natureza e que hoje é o foco de um projeto de reintrodução. Contudo, ao observar os animais mais atentamente, nota-se que, entre as penas de coloração azul-turquesa, despontam algumas penas brancas.

circovírus na ararinha-azul
Imagem do banner: Ararinha-azul reintroduzida na Caatinga de Curaçá (BA). Foto: Miguel Monteiro.

Em 12 de maio deste ano, a BlueSky, empresa brasileira responsável pelo criadouro utilizado na reintrodução da ararinha-azul em Curaçá, notificou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Natureza (ICMBio) e o Instituto de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado da Bahia (Inema) de que sete animais haviam testado positivo para circovírus, sendo um filhote nascido na natureza e seis aves que estavam sendo preparadas para soltura ainda este ano.

O circovírus é o agente causador da doença do bico e das penas, comum em psitacídeos — grupo de aves que inclui araras, papagaios e periquitos. Trata-se de uma enfermidade altamente contagiosa, potencialmente letal e sem tratamento conhecido, que pode causar má-formação e descoloração de penas, deformações no bico e imunossupressão. A transmissão pode ocorrer pelo contato das aves com penas infectadas ou superfícies contaminadas, como comedouros, poleiros e ninhos.

Paisagem da Caatinga na região de Curaçá, Bahia, onde ocorre o projeto de reintrodução da ararinha-azul na natureza. Foto: Miguel Monteiro.

Dada a gravidade do vírus, e pelo fato de nunca ter sido detectado em aves de vida livre no Brasil ou na América do Sul — o vírus é nativo da Austrália —, considera-se de suma importância que sua ocorrência em aves ameaçadas de extinção seja comunicada o quanto antes, inclusive pelo risco de contaminação de outras espécies da fauna brasileira.

Contudo, segundo informações do ICMBio, em janeiro de 2025, uma das ararinhas-azuis dentre as 41 que estavam para ser enviadas do criadouro da ACTP, na Alemanha, para o Brasil, já havia testado positivo para o circovírus.

A ACTP (Association for the Conservation of Threatened Parrots) é uma organização sem fins lucrativos com sede em Hanôver que mantém papagaios e araras ameaçados de extinção; hoje possui cerca de metade das ararinhas-azuis existentes no mundo. A ACTP e o ICMBio já mantiveram um acordo de cooperação técnica para viabilizar a reintrodução da ararinha-azul na natureza, mas em 2024 o acordo foi encerrado pelo ICMBio, conforme relatou outra matéria publicada na Mongabay. Desde o encerramento do acordo com o ICMBio, a BlueSky assumiu a parceria com a ACTP, tornando-se a titular responsável pelo criadouro da ararinha-azul em Curaçá.

Quase 2.500 espécies de animais e plantas em risco de extinção no Brasil

A ararinha que testou positivo para circovírus ainda na Alemanha foi submetida a um segundo teste apenas oito dias depois, que deu resultado negativo. O ICMBio destaca, porém, que apenas um teste negativo para circovírus após a detecção da doença não exclui totalmente a possibilidade de infecção, uma vez que o vírus é intermitente e falsos negativos são comuns.

De qualquer forma, as 41 ararinhas-azuis que estavam na Alemanha, incluindo o indivíduo que chegou a testar positivo para circovírus, foram enviadas ao Brasil ainda no mês de janeiro deste ano. Em nenhum momento as autoridades brasileiras foram informadas sobre o indivíduo que testou positivo, e tampouco foram seguidas as recomendações sanitárias para casos positivos de circovírus, informa o ICMBio.

circovírus na ararinha-azul
Filhote de ararinha-azul com circovírus, com sintomas de penas brancas, em isolamento no criadouro. Foto: Miguel Monteiro.

Instauração de emergência ambiental

A partir da confirmação e notificação de indivíduos positivos para circovírus no criadouro das ararinhas-azuis em Curaçá, a Coordenação de Emergências Climáticas e Epizootias do ICMBio (Coece) decretou situação de emergência. Desde então, o ICMBio realizou visitas ao criadouro em junho e agosto a fim de vistoriar as medidas de contenção da disseminação do vírus e acompanhar a coleta de amostras dos animais de cativeiro para testagem. Porém, a equipe se deparou com situações desafiadoras no criadouro.

“Lidar com a BlueSky e a ACTP durante esse processo não tem sido uma tarefa fácil, principalmente considerando que há sempre um questionamento da nossa competência institucional. Sempre é um processo bem penoso, sempre há uma resistência em nos recepcionar, sempre há uma resistência de colaborar com as coletas. Inclusive para ter acesso ao local, tentaram nos impedir de entrar mais de uma vez, então nunca uma ida ao criadouro é tranquila”, comenta Cláudia Sacramento, coordenadora da Coece/ICMBio que esteve à frente da emergência.

“Houve omissão por parte deles em relação ao animal que testou positivo na Alemanha, eles não declararam essa informação. Não foi um processo transparente’, continua ela. “Depois, a partir do momento em que foram identificadas ararinhas com circovírus no criadouro, nós enviamos ofícios, e-mails, houve conversas para implementar medidas de biossegurança. Porém, as medidas não foram seguidas, e a resposta sempre foi que eles [ACTP e BlueSky] não concordavam com o que nós repassamos, alegando que o circovírus não apresenta nenhum perigo à fauna brasileira e que o circovírus existe há mais de 30 anos no Brasil.”

Cláudia confirma que, sim, houve casos de animais silvestres que foram identificadas com o circovírus, mas, segundo ela, todos esses indivíduos estavam em contato com animais de cativeiro domesticados, seja em Cetas (Centros de Triagem de Animais Silvestres) ou em criadouros, onde há grande possibilidade de contaminação. “Eles se utilizam de uma narrativa construída com recortes científicos e sempre omitindo o que de fato importa.”

Diante desse cenário, o ICMBio retornou ao criadouro das ararinhas-azuis em setembro, dessa vez em parceria com a Polícia Federal. O objetivo foi coletar, juntamente com a equipe do criadouro, amostras das ararinhas em cativeiro, supervisionar o cumprimento das medidas de biossegurança exigidas e monitorar e coletar amostras de outras espécies de aves no entorno do criadouro.

Pesquisadores realizam captura de aves silvestres na Caatinga de Curaçá (BA) para coleta de amostras e testagem de circovírus. Foto: Miguel Monteiro.

No total, foram coletadas amostras de sangue, fezes e penas das 92 ararinhas-azuis, além de dois maracanãs (Primolius maracana), mantidos em cativeiro para testar novamente a ocorrência de circovírus, mas até a publicação desta matéria os resultados ainda não haviam sido divulgados. A coleta de amostras de outras espécies de aves teve o intuito de investigar se o circovírus se espalhou pelas redondezas, tendo em vista o seu alto potencial de contágio.

Uma equipe de biólogos e veterinários utilizou redes de neblina para capturar as aves da região, coletando amostras de penas, fezes e swabs orais e cloacais. Além disso, com o auxílio de assistentes de campo da comunidade local, a equipe escalou árvores próximas ao criadouro para coletar amostras de ninhos de maracanãs, espécie de papagaio que frequentemente entra em contato com as ararinhas-azuis. Já a avaliação das instalações, condições sanitárias, medidas de biossegurança e bem-estar das aves foi conduzido por médicos-veterinários de instituições parceiras e peritos da Polícia Federal.

Segundo Evelyn Pimenta, veterinária do Hospital Veterinário da Universidade de Brasília, que participou da vistoria ao criadouro junto do ICMBio, “ao adentrar o criadouro, a primeira impressão foi de uma estrutura física ampla, com potencial para oferecer boas condições às aves. No entanto, durante as inspeções iniciais, observaram-se sinais de estresse acentuado em diversos indivíduos [de ararinha-azul], incluindo ausência de penas e penas quebradas”.

“Também foram observadas inconsistências em protocolos de biossegurança, especialmente considerando o contexto de emergência sanitária. A administração de medicamentos controlados sem individualização ou controle de dose configurou um ponto crítico sob o ponto de vista técnico e ético. Outro aspecto relevante foi a execução de procedimentos invasivos em aves sem a presença ou supervisão direta de um médico-veterinário habilitado, o que representa falha de protocolo e risco potencial ao bem-estar animal”, complementa.

Ao observar também as ararinhas que estão na natureza, relata a veterinária, “as aves de vida livre apresentaram alterações de empenamento, com áreas sem pena na cabeça e no corpo e, em um dos casos, alteração no bico, com desvio e hipercrescimento da parte de baixo do bico. Embora tais achados não sejam específicos de circovirose, são indicativos de que o quadro merece investigação detalhada, reforçada pelo cenário de emergência sanitária”.

Assistentes de campo da comunidade local sobem em árvore com ninhos de maracanãs, outra espécie de psitacídeo, para coletarem amostras e avaliar contágio de circovírus. Foto: Miguel Monteiro.

O prelúdio da emergência

Mesmo antes da instauração de uma emergência ambiental, um profissional veterinário que chegou a trabalhar no criadouro das ararinhas-azuis em Curaçá, mas preferiu falar sob condição de anonimato, relata que já enfrentava diversas dificuldades.

“Quando surgiu o filhote com penas descoloridas que nasceu na natureza, a equipe da ACTP o capturou e colocou no recinto de soltura, sem saber o que essa ave tinha. Eles não comunicavam à equipe veterinária sobre o manejo das aves, não pediam opinião” lembra ele. “Eu comentei que as alterações de deficiência de penas e a descoloração batiam muito com circovírus ou com poliomavírus. Porém, a equipe da ACTP me informou que jamais seria isso, provavelmente era uma questão nutricional. Todos os meus questionamentos eram rebatidos, sempre direcionando para problemas que não fossem patológicos, infecciosos.”

Segundo o veterinário, “mesmo com esse filhote demonstrando sintomas, a equipe da ACTP não quis coletar amostras de sangue de todas as aves, alegando que ia causar estresse. Ao invés disso, foram coletadas amostras em pool, ou seja, as 20 aves que estavam no recinto de soltura foram separadas em quatro grupos de cinco animais e apenas uma amostra de sangue foi coletada de cada grupo. Só depois de um animal ter testado positivo é que resolveram testar todos”.

Em relação a outras questões no criadouro, “já ocorreu de uma ave estar doente, estar recebendo tratamento e a equipe veterinária não ter sido informada. Todo o manejo e tratamento medicamentoso era feito pela equipe da ACTP; não nos foi solicitado um exame clínico físico dessa ave para poder dar o nosso posicionamento, nosso parecer. Eu só realizei a necropsia dela uma vez que veio a óbito”, diz o veterinário.

“A equipe veterinária nunca teve acesso a certas áreas do criadouro, como, por exemplo, o nascedouro, onde os filhotes são criados diretamente com papinha. Na área de breeding [onde ficam as aves reprodutoras], eu sequer pude observar as aves por fora [do recinto], muito menos na parte interna”, acrescenta. A título de comparação, em 28 de janeiro deste ano, o perfil da ACTP no Instagram publicou uma foto da modelo alemã Alena Gerber visitando o criadouro em Curaçá e alimentando um filhote recém-nascido de ararinha-azul. “Senti que não nos davam o acesso que deveríamos ter, as coisas não eram comunicadas de forma clara. A gente não estava sendo respeitado como profissional”, relata o veterinário que trabalhou no projeto.

Equipes do ICMBio e da ACTP coletam amostras das ararinhas-azuis mantidas em cativeiro no criadouro. Foto: Miguel Monteiro.

Narrativas contrastantes

Diante das recomendações do ICMBio para lidar com a emergência do circovírus nas ararinhas-azuis, pode-se observar a divulgação de narrativas com informações contrastantes por parte das organizações envolvidas. Em publicações em redes sociais e em uma transmissão ao vivo pelo YouTube, a equipe da ACTP se mostrou contrária à proposta de capturar as ararinhas-azuis em vida livre para testar se estão contaminadas com circovírus, alegando que isso representaria o fim do projeto.

Porém, segundo Luís Fábio Silveira, curador de aves do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) com ampla experiência em projetos de reintrodução de psitacídeos, “não tem outra saída. Tem que capturar e testar, isso é para a própria segurança do projeto. A gente tem uma emergência sanitária, tem um problema sanitário que é real. Então, é imperativo para a própria segurança e tranquilidade das pessoas que estão trabalhando no projeto que os bichos sejam testados”.

O pesquisador, que acompanha o projeto de conservação e reintrodução das ararinhas-azuis desde o início da década de 90, é categórico em comentar sobre a presença de circovírus na região: “A área de Curaçá é conhecida por pesquisadores há décadas e até agora nunca havia sido reportado nenhum caso de circovírus. Qual foi a única variável que entrou em um lugar remoto como Curaçá, de 1990 até agora? Foi a chegada das ararinhas-azuis”. “Cadê os maracanãs com penas brancas? Cadê os periquitos pelados, sem penas? Não tem. Simplesmente não tem. Não há registros anteriores de bicho com sinal clínico [de circovírus] nessa região”, complementa.

circovírus na ararinha-azul
Amostra coletada de pena de ararinha-azul com sintoma de circovírus. Foto: Miguel Monteiro.

Outra afirmação que tem sido propagada por integrantes da ACTP em redes sociais e na transmissão ao vivo é que a captura das ararinhas em vida livre para testagem do vírus configuraria uma “segunda extinção” da espécie. Contudo, para Luís Fábio Silveira, “o principal critério para considerar que uma espécie reintroduzida deixou de estar extinta na natureza é a população ser autossustentável, se reproduzindo e vivendo por conta própria”.

Atualmente, a população de ararinhas-azuis em vida livre em Curaçá é composta por 11 indivíduos, sendo apenas dois filhotes nascidos na natureza. Os animais também dependem de suplementação alimentar diária. “Isso é critério da IUCN [União Internacional para a Conservação da Natureza], que determina o status de conservação das espécies. No site da IUCN, ela continua tecnicamente extinta na natureza. E ela vai continuar [sendo considerada] extinta pelos próximos cinco, seis anos. Então, está muito longe de falar que o bicho está estabelecido na natureza”, complementa Luís.

“Há essa narrativa de que estamos capturando as ararinhas para extingui-las da natureza”, comenta Cláudia Sacramento, coordenadora da Coece/ICMBio. “Ora, quem é que mais quer essas ararinhas de volta à natureza? O Brasil, o povo brasileiro, é um bem nosso, um patrimônio nosso. Entretanto, é necessário esclarecer que a gente precisa que as ararinhas voltem para a natureza saudáveis, sem colocar em risco a própria espécie, tampouco as outras espécies nativas.”

Segundo ela, “tendo em vista a viabilidade em longo prazo do projeto de reintrodução das ararinhas-azuis na natureza, esperava-se que seria de interesse do criadouro ser colaborativo, buscando soluções conjuntas. Infelizmente, está longe de ser o que temos observado”.

Em setembro, a BlueSky entrou na justiça com um pedido de liminar para suspender a captura das ararinhas-azuis em vida livre, contrariando a determinação do ICMBio. Contudo, em 8 de outubro, o juiz negou o pedido e manteve as determinações do ICMBio para a realização da captura das ararinhas, testagem de circovírus e isolamento de eventuais animais infectados, que deve ocorrer em breve.

Ararinha-azul de vida livre próximo ao criadouro em Curaçá (BA). Foto: Miguel Monteiro.

O que dizem as organizações envolvidas

Em resposta às perguntas enviadas pela Mongabay, Cromwell Purchase, coordenador científico e de projetos de campo da ACTP, comentou que “a afirmação [de que uma ararinha-azul teria testado positivo na Alemanha] é imprecisa. A ACTP nunca diagnosticou um caso de doença do bico e das penas. Considerando que a ACTP não teria arriscado enviar um animal com resultado positivo para o Brasil, o laboratório foi prontamente contatado. Eles nos informaram que a ave apresentou um resultado positivo muito fraco e, portanto, recomendaram retestar. Tanto o reteste da amostra inicial quanto o teste realizado em uma amostra coletada posteriormente retornaram resultados negativos.”

Sobre a possibilidade de esse animal ter causado a infecção por circovírus em Curaçá, ele afirma que “outro ponto relevante é a aparente falta de engajamento científico por parte dos técnicos do ICMBio em lidar com a questão. Continua implausível que essas aves tenham sido a fonte de infecção para o filhote de ararinha-azul nascido na natureza, principalmente devido ao tempo insuficiente para a transmissão.”

Purchase também justifica a dificuldade em acessar o criadouro da ACTP em Curaçá, conforme relatado pelos profissionais do ICMBio, alegando que é “devido ao ICMBio não estar disposto a considerar os protocolos internos para as aves e seu bem-estar. O ICMBio não tem interesse no que é melhor para as aves, eles são psicopatas confinados em seus escritórios e sem coração. Eles estão dispostos a sacrificar as aves em nome de seus interesses, sem remorso nem peso na consciência. O acesso é restrito para o bem-estar das aves; estas não são animais de estimação, são aves criadas para conservação.”

Sobre os comentários feitos por um veterinário que participou do projeto, o coordenador da ACTP acrescenta que “o acesso [às aves] pode ser limitado por razões de manejo se não houver sinais de problemas, se estiverem em período reprodutivo ou dentro de duas horas após a alimentação. Ou se a pessoa esteve em uma área diferente em contato com aves e deseja entrar em outra área.”

“Não consideramos a captura de ararinhas-azuis de vida livre de importância significativa,” comenta Purchase, a respeito da possibilidade de capturar ararinhas soltas na natureza. “Afirmamos que é crucial uma investigação abrangente da situação do circovírus na região. Esta análise pode requerer a inclusão de algumas ararinhas de vida livre; no entanto, é ainda mais imperativo capturar e examinar outros psitacídeos de vida livre na área. Alternativamente, o vírus pode ser uma invenção e nem existir.”

Purchase também acrescenta que “existe uma relutância em reconhecer que, se um vírus extremamente contagioso tem circulado por três décadas no Brasil — uma nação onde aves em cativeiro são mantidas ao ar livre e, portanto, têm interação direta com aves selvagens —, é, no mínimo, ingênuo supor que esse vírus ainda não se disseminou no ambiente.”

“É compreensível que o governo brasileiro possa estar relutante em admitir que subestimou a questão e agora tenta nos atribuir a culpa, desviando assim a responsabilidade por não ter implementado as medidas necessárias em tempo hábil. Dada a ausência de esforços de reintrodução bem-sucedidos para ararinhas-azuis nos últimos trinta anos, existe considerável inveja em relação àqueles que conseguiram essa tarefa aparentemente insuperável. Ao capturar as ararinhas e depois soltá-
las, o ICMBio só quer aparecer como o salvador da ararinha-azul, se aproveitando dos esforços feitos pela ACTP”, conclui Purchase.

Em nota, a BlueSky também elaborou uma resposta às perguntas enviadas pela Mongabay: “A importação das 41 aves da Alemanha recebeu todas as autorizações dos órgãos competentes, que incluem Mapa [Ministério da Agricultura e Pecuária], Ibama, Receita Federal e Polícia Federal. Todas as etapas do processo de importação e quarentena também foram acompanhadas por esses órgãos e ainda pelo órgão estadual e ICMBio. Todos os resultados de todos os exames estiveram à disposição das autoridades todo o tempo durante todas as etapas. Desconhecemos que tenha sido negada a entrega de resultados dos exames ou que tenha sido feita de forma incompleta a qualquer autoridade que o tenha solicitado”.

“É extremamente leviano afirmar que houve omissão de informação por parte dos que mais têm interesse na importação dessas aves. Todas as 41 ararinhas que vieram da Alemanha foram testadas para todas as doenças e tiveram resultados negativos”, afirma a resposta da BlueSky. Além disso, acrescenta, “a cronologia da doença aponta para que o vírus tenha origem diversa do que a população da Alemanha, considerando os testes positivos e negativos e o tempo de incubação do vírus”.

“É sabido que o vírus ocorre no Brasil há cerca de 30 anos, com registro em criadouros, feiras livres, centros de reabilitação de animais e em petshops em todo Brasil. É difícil de acreditar que desde a década de 90 nenhuma ave com circovírus, nativa ou exótica, foi para o ambiente natural e que o vírus está restrito ao cativeiro. Nas regiões adjacentes a Curaçá, foram realizadas solturas de aves apreendidas e existe um amplo comércio ilegal de aves silvestres”, afirma a nota.

Sobre as dificuldades relatadas para adentrar o criadouro em Curaçá, a resposta da BlueSky argumenta que “o criadouro jamais impôs resistência à presença dos órgãos ambientais ou qualquer outra autoridade. Ademais, pelo bem-estar das aves e protocolo de manejo, o fluxo de pessoas nos recintos é limitado. O acesso das autoridades no desempenho de suas funções sempre foi permitido, cabendo à equipe do criadouro informar sobre as limitações, considerando o bem-estar das aves”.

A respeito de não seguirem as recomendações sanitárias, a nota afirma que “todas as medidas práticas de biossegurança necessárias para evitar a disseminação do vírus são devidamente adotadas, com plena separação das áreas contaminadas das não contaminadas. Algumas recomendações acadêmicas e teóricas não se aplicam à realidade operacional e não fazem qualquer diferença do ponto de vista de biossegurança ou sanidade. Algumas põe em risco o bem-estar das aves”.

Comentando sobre a captura das ararinhas em vida livre, a BlueSky relata que “nove desses 11 animais sobrevivem livres nos últimos três anos e dois animais nasceram em vida livre e nunca estiveram numa gaiola. Elas estão adaptadas à vida silvestre. Recapturá-las para amostragens invasivas traz riscos relevantes. Entretanto, é importante que o governo tome sua decisão baseado na consulta aos envolvidos e que possam aportar informações relevantes”.

Fonte: Mongabay.


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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