A escassez de chuvas no Sudeste no último verão e as toneladas de granizo que cobriram as ruas de São Paulo no dia 20 de maio são eventos exemplares das mudanças climáticas em curso no planeta. Apesar delas, os desafios para o crescimento da produção agrícola brasileira permanecem inalterados: a meta proposta pela OCDE para o Brasil é aumentar em 40% a produção de alimentos até 2050 e o resto do mundo terá o desafio de crescer apenas a metade.
O país já começou as pesquisas para descobrir plantas capazes de tolerar as mudanças climáticas – incluindo temperaturas mais elevadas, menos água e atmosfera com mais carbono – e de terem produtividade elevada com menos fertilizantes. Um dos locais onde isso está acontecendo é a unidade mista de pesquisa em genômica aplicada a mudanças climáticas (UmipGenclima), um centro de pesquisas criado pela Unicamp e pela Embrapa em Campinas, que contará com verbas estimadas em R$ 100 milhões para desenvolver, dentro dos próximos cinco anos, esses tipos de plantas.
A equipe tem, atualmente, 12 pesquisadores, todos especialistas em biotecnologia com pós-doutorado em universidades ou centros de pesquisa de outros países, liderados pelo biólogo Paulo Arruda, um dos pioneiros em biologia molecular no Brasil e co-fundador da Alellyx, primeira empresa brasileira de genômica vegetal aplicada, que em 2008 foi comprada pela Monsanto. Dentro de um ano, contudo, o número de pesquisadores poderá chegar a 70 e o laboratório, hoje abrigado no Instituto de Biologia da Unicamp, deverá ser transferido para o parque tecnológico da universidade para operar como uma startup.
Os trabalhos começaram há um ano, com foco no milho, por causa de sua função estratégica no agronegócio, embora outras plantas como soja e arroz também estejam no horizonte do projeto. A descrição da estratégia do trabalho é simples mas aponta para um desafio surpreendente: “Precisamos descobrir quais são os genes, em diferentes organismos, que fazem com que eles sobrevivam em condições extremas. Se transferirmos esses genes para o milho, para a soja, isso fará com que essas espécies sobrevivam numa condição de menos água ou temperatura mais alta? Encontrar a resposta é o nosso desafio”, explica Arruda.
“Trabalharemos com o milho porque é um modelo interessante e tem um impacto econômico brutal. Em 2012, o Meio Oeste americano teve a maior seca dos últimos 50 anos, que provocou uma perda 40 milhões de toneladas de milho, uma quantidade igual à da safra brasileira. Por causa disso, eles precisaram comprar milho do mundo inteiro, o preço subiu e as consequências nós vimos no noticiário, com a quebra nas produções de frango, porco, leite por causa da elevação dos preços de rações, e os efeitos na inflação, que permanecem até hoje”, lembra.
Até 15 ou 20 anos atrás, conta o cientista, as pesquisas buscavam plantas que respondessem bem à absorção de adubos, “até surgir a conscientização de que ao colocarmos cada vez mais adubo baseado em nitrogênio, fósforo e potássio no solo, estamos produzindo impactos no meio ambiente. As pesquisas passaram a ser orientadas para plantas que possam produzir bastante com menos adubo”. Nesse mesmo intervalo, surgiu a confirmação do aquecimento global: “Agora temos de produzir mais com menor necessidade de nutrientes e menos água”, diz.
Outras pesquisas do mesmo tipo estão em andamento em unidades da Embrapa, diz o diretor de pesquisa e desenvolvimento da instituição, Ladislau Martin Neto: “A Embrapa vem estudando as mudanças climáticas com cerca de 500 pesquisadores”, afirma. Essas pesquisas indicam que o aumento da temperatura no país vai diminuir a área favorável para soja, café, milho, arroz, feijão e algodão, e que até 2020 os prejuízos para o agronegócio podem alcançar R$ 7,4 bilhões se não houver providências e inovação.
A geografia da produção agrícola brasileira mudará – assim, haverá mais áreas para cana-de-açúcar, cuja produção poderá até dobrar, enquanto a mandioca perderá espaço no Nordeste mas poderá ser plantada em outras regiões do país. No caso da cana, o Instituto Agronômico de Campinas já desenvolveu três variedades para regiões mais secas, diz Marcos Landell, pesquisador-líder do programa de melhoramento de cana do Instituto.
A NexSteppe, empresa de biotecnologia com sede na Califórnia e um centro de desenvolvimento em Rio Verde (GO), trabalha em variedades de sorgo com maior tolerância às elevações de temperatura, explica o agrônomo e pesquisador Maurício Barbosa, diretor de melhoramentos da empresa: “Nosso trabalho é desenvolver sorgo para geração de energia, seja por queima de biomassa ou pela produção de combustíveis: do sorgo sacarino se produz etanol de primeira geração e da biomassa se produz etanol de segunda geração”, explica Barbosa.
Fonte: Canal Do Produtor
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