USP usa ciência cidadã para mapear frutas em áreas urbanas

Projeto Pomar Urbano envolve cidadãos na identificação de plantas frutíferas nas cidades e promove o uso da biodiversidade para conservação e inovação.
Aproximar os cidadãos do processo de fazer ciência ainda é um desafio para a academia. Atuando nessa frente, pesquisadores da Escola Politécnica (Poli) da USP estão utilizando a ciência cidadã por meio da plataforma iNaturalist para monitorar plantas comestíveis em áreas urbanas. Publicado na GigaScience, o artigo elaborado pelo grupo apresenta o projeto Pomar Urbano, iniciativa que mobiliza a população para coletar dados sobre plantas frutíferas. Esse monitoramento visa entender melhor a biodiversidade e promover uma conexão entre a população, a ciência e o ambiente urbano nas capitais brasileiras para promover valor e conhecimento sobre ela com parcerias que desenvolvem produtos e tecnologias.
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Sérgio Shigeda, grande ambientalista que era um entusiasta e promovia projetos ambientais em São Paulo. Foto: Marcos Santos / USP Imagens
“A maneira mais eficaz de promover a conservação das espécies é por meio do uso consciente da biodiversidade. Isso gera um sentimento de valorização e conservação”, explica Filipi Miranda Soares, primeiro autor do artigo e doutorando em Engenharia Elétrica na Poli. Plantas frutíferas constituem um grupo de organismos crucial para o funcionamento dos ecossistemas urbanos, fornecendo benefícios da natureza para as pessoas. A iniciativa Pomar Urbano serve como plataforma colaborativa, reunindo pesquisadores, cientistas e cidadãos brasileiros para monitorar essas plantas em paisagens urbanas. 

“O projeto mostrou que, ao buscar conhecer espécies para coletar recursos como dados, frutas e fibras, as pessoas começam a entender e valorizar” (Filipi Miranda Soares)

Filipi Miranda Soares – Foto: Arquivo pessoal

Esses dados levantados pelos usuários participantes do projeto no iNaturalist também são aplicados em frentes como  aprendizado de máquina (machine learning) para identificar fraudes em alimentos exportados para a Holanda, mas apresentam um potencial nacional maior de fomentar políticas de preservação. “A partir desses dados, temos uma noção do que está ocorrendo naquele espaço, principalmente das espécies nativas endêmicas de cada região. Conseguimos ver se, de fato, elas estão inseridas ali no espaço urbano, inclusive algumas ameaçadas. É uma ideia levar isso para os gestores“, destaca.

Engajamento como maior desafio

Apesar do protagonismo da educação ambiental e científica, projetos como este enfrentam problemas com o engajamento. A capilaridade da rede entre universidades e participantes do projeto são pontos positivos, porém o marketing necessário para atingirem uma proporção maior da população demanda recursos. “Convidamos usuários engajados, com muitas curtidas, compartilhamentos, para participar da rede no iNaturalist. Essa estratégia tem funcionado”, confirma o pesquisador. “No Pomar Urbano, tem-se uma equipe multidisciplinar, incluindo designers e professores de marketing. Embora tenhamos conteúdo pronto, ainda precisamos de alguém para gerenciar nossas redes”, continua.

Ainda assim, estratégias específicas, como colaborações com influenciadores e campanhas nas redes sociais, foram propostas para aumentar e manter o engajamento. “Também entramos em contato com influenciadores digitais para expandir a presença nas redes sociais, alcançando além da comunidade acadêmica, que é o objetivo da ciência cidadã”, afirma o doutorando.

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Além disso, a plataforma enfrenta duas complicações: a falta de um representante legal da empresa no Brasil para manter os dados em território nacional e a marcação de registros com o grau de pesquisa para marcar plantas não cultivadas por quem registra a foto. O primeiro e mais complexo levanta questões sobre soberania dos dados nacionais, mas Soares diz que criar uma outra plataforma sem integração com o aplicativo estrangeiro afetaria mais o engajamento. Sobre as marcações, ele afirma que o diálogo entre o serviço e os pesquisadores que o utilizam é possível para adição da função. Ele, aliás, elogia a maneira como a rede funciona de forma colaborativa.

“Ela é muito boa, pois permite que a comunidade faça a curadoria”, destaca Antônio Saraiva, orientador da pesquisa e professor titular do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Poli. Ele lembra que, ao publicar uma foto na rede, a ferramenta pode identificar o que é por meio da inteligência artificial. Ela consegue reconhecer com precisão, mas, se não acertar a espécie, pode identificar a família. “A comunidade então faz a curadoria, com especialistas compartilhando conhecimento deles na própria rede”, afirma.

“É um método eficaz de melhoria da qualidade [dos registros] baseado na colaboração comunitária” (Antônio Saraiva)

Antônio Saraiva – Foto: Arquivo pessoal

Preservar é criar valor e conhecimento

A biodiversidade brasileira possui grande valor, tanto com alimentos como produtos sustentáveis, e esse banco de dados em construção tem diversas aplicações: de processos de aprendizado de máquina à criação de produtos. Os pesquisadores acreditam na conservação da biodiversidade por meio da criação de valor e conhecimento, por isso a importância desses dados. Esses últimos ficam também abertos a quem tiver interesse, podendo fomentar outras pesquisas e produtos.

Design de produtos baseados nos registros do projeto são desenvolvidos para criar valor na biodiversidade local – Foto à esquerda: researchgate e Foto à direita: researchgate

“Temos sido exemplos em articular parcerias e criar materiais como tecidos, canecas e outros produtos. Foram desenvolvidos protótipos de estampas no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo”, exemplifica Saraiva. Essa contribuição cidadã também é importante para o conhecimento científico global, como no portal internacional Global Biodiversity Information Facility (GBIF), que hospeda esses e outros bilhões de dados em cooperação com a plataforma iNaturalist e outros agentes.

Para aumentar mais a capacidade de registro, uma estratégia com embaixadores e bioblitz (chamadas públicas nas ruas com a comunidade) que incentivassem as coletas e registros das plantas é ressaltada. “As parcerias com outros grupos de pesquisa e universidades são essenciais, pois essa ferramenta interessa amplamente. Gostaríamos que outros colegas fizessem bioblitz em suas cidades e é interessante ter em cada lugar alguém para ser embaixador, divulgador e organizador de bioblitz, agitando a comunidade”, projeta o professor.

Fonte: USP.


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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