China não investe no fundo florestal criado pelo Brasil durante a COP30, em Belém. Apesar de apoiar publicamente a proposta, o governo chinês decidiu não aportar recursos financeiros imediatos no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) — mecanismo idealizado pelo Brasil para financiar a conservação das florestas tropicais por meio de pagamentos pela manutenção da vegetação em pé.

A decisão repercutiu amplamente nos bastidores do evento e reacendeu o debate sobre a responsabilidade de países desenvolvidos no financiamento climático global.
O que é o TFFF
Lançado oficialmente durante a COP30, o Tropical Forests Forever Facility (TFFF) é um fundo internacional criado pelo Brasil para estimular a proteção das florestas tropicais em países da América Latina, África e Ásia. O modelo propõe recompensar financeiramente os países que reduzirem o desmatamento, combinando recursos públicos, doações privadas e investimentos de impacto.
- Meta inicial: captar US$ 10 bilhões ainda durante a presidência brasileira da COP30.
- Meta de longo prazo: alcançar US$ 125 bilhões em compromissos globais.
- Critério de pagamento: remuneração por hectare preservado, com bônus adicionais para territórios indígenas e unidades de conservação.
O TFFF foi anunciado como o maior fundo climático já liderado por um país do Sul Global, e recebeu apoio político imediato de diversas nações, inclusive da própria China — embora sem aporte financeiro.
Por que a China decidiu não investir
Segundo reportagens da InfoMoney, Exame e Bloomberg Línea, representantes do governo chinês informaram ao Brasil que não pretendem investir no fundo neste momento.
A justificativa apresentada é que as nações desenvolvidas devem ser as principais responsáveis por financiar a preservação das florestas, seguindo o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” do Acordo de Paris.
Além disso, o governo chinês indicou que só considerará uma participação futura após o detalhamento completo da governança do TFFF, incluindo:
- critérios de aplicação dos recursos;
- papéis de cada país participante;
- regras de transparência e prestação de contas.
“A China apoia a criação do fundo, mas acredita que as nações ricas devem liderar as contribuições financeiras”, afirmou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, citado pelo South China Morning Post.
Repercussão internacional
A decisão chinesa causou preocupação entre diplomatas e negociadores climáticos. A ausência de aporte da segunda maior economia do planeta pode atrasar a consolidação da meta inicial de US$ 10 bilhões, defendida pelo ministro Fernando Haddad.
Ainda assim, o Brasil mantém negociações ativas com outros países, como Alemanha, França, Emirados Árabes Unidos e Noruega, para ampliar o número de doadores até o fim do mandato brasileiro à frente da COP30.
Para analistas, a postura da China não representa um rompimento político, mas sim uma estratégia diplomática cautelosa, que busca fortalecer sua imagem de país em desenvolvimento ao mesmo tempo em que preserva flexibilidade nas negociações financeiras multilaterais.
Implicações para a agenda florestal
A ausência de investimento chinês no TFFF reforça um dilema histórico da governança climática global: quem deve pagar pela preservação das florestas tropicais?
Enquanto países do Norte Global defendem a participação de economias emergentes, como China e Índia, no financiamento climático, esses países argumentam que os países industrializados têm uma dívida histórica pelas emissões que causaram a crise atual.
Para o Brasil, o desafio será ampliar o número de contribuintes e consolidar um mecanismo financeiramente viável, capaz de remunerar países tropicais e comunidades tradicionais pela conservação de seus ecossistemas — especialmente na Amazônia.
A decisão da China de não investir no fundo florestal brasileiro na COP30 evidencia que, embora o TFFF tenha conquistado apoio político global, ainda falta o engajamento financeiro de grandes potências para torná-lo efetivo.
O sucesso do fundo dependerá da capacidade do Brasil de articular, com transparência e liderança, um modelo de governança que una o discurso da conservação com resultados concretos.
Mesmo sem a participação imediata da China, o TFFF representa um avanço histórico na diplomacia ambiental brasileira, e reforça o papel do país como articulador global na transição ecológica.
Fontes: InfoMoney – China decide não investir em fundo florestal criado pelo Brasil na COP30; Exame – China não aceita investir em fundo de florestas tropicais; Bloomberg Línea – China não contribuirá em fundo florestal liderado pelo Brasil na COP30; South China Morning Post – China won’t back Brazil rainforest fund; Reuters – Brazil expects German contribution to forest fund by year-end
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