Árvores próximas da mesma espécie têm mais dificuldade de sobreviver

Um estudo conduzido em colaboração com o Instituto de Biociências (IB) da USP revelou que as árvores enfrentam maior risco de sobrevivência quando estão cercadas por indivíduos da mesma espécie, um fenômeno possivelmente impulsionado pela especialização de patógenos, que engloba uma variedade de agentes danosos como parasitas, bactérias e fungos. Esta pesquisa, baseada na análise de dados provenientes de 23 florestas ao redor do globo, incluindo a região da Ilha do Cardoso no Brasil, endossa parcialmente uma das teorias e

Araucária nascendo longe da árvore mãe
Araucária nascendo longe da árvore mãe. Foto: Arthur Brasil.

cológicas, oferecendo uma possível explicação para a maior diversidade de espécies nos trópicos.

O padrão conhecido como gradiente latitudinal de biodiversidade sugere que a diversidade de fauna e flora atinge seu ápice nos trópicos terrestres. Há meio século, os ecologistas Daniel Janzen e Joseph Connell propuseram uma hipótese para explicar essa variação na diversidade arbórea dos trópicos. Eles sugeriram que a ampla dispersão de sementes e plântulas nestas regiões minimiza o impacto negativo de microrganismos que podem causar a morte das árvores, bem como diminuir seu crescimento e capacidade reprodutiva.

Para Janzen e Connell, a estabilidade climática nos trópicos favorece tanto a especialização de animais herbívoros quanto de patógenos, enquanto a alta densidade de árvores da mesma espécie em uma única área facilita a propagação de contaminação e infecção.

“Isso é conhecido como dependência negativa de densidade para a mesma espécie, ou seja, a sobrevivência e o crescimento de uma árvore são prejudicados quando há um grande número de vizinhos da mesma espécie. Assim, é mais benéfico para a árvore ter vizinhos de espécies diferentes, pois isso reduz as chances de infecção por patógenos ou consumo por herbívoros”, explica Melina de Souza Leite, ecologista e cientista de dados do Laboratório de Ecologia de Florestas Tropicais do IB.

Espécies de árvores nativas protegem contra árvores não nativas | Florestal Brasil

O estudo, liderado por professores na Alemanha, teve como objetivo principal testar essa hipótese usando dados coletados em diversas florestas ao redor do mundo. A análise dinâmica dos dados das árvores ao longo do tempo foi realizada em colaboração com o ForestGEO, uma rede global de cientistas que monitora florestas e espécies.

Melina Leite destaca que muitos estudos têm abordado esse fenômeno, mas o diferencial deste grupo é a utilização de dados provenientes de diversas florestas do mundo, acompanhando cada árvore ao longo de vários anos. “Existe um protocolo padronizado: a cada cinco anos, os pesquisadores visitam a mesma árvore, que recebe uma plaqueta de identificação, e durante os censos florestais acompanham sua sobrevivência, crescimento e incidência de doenças”, explica.

As análises revelaram uma maior mortalidade entre árvores vizinhas da mesma espécie, um fenômeno observado em todo o mundo. Além disso, identificaram que o padrão de dependência negativa de densidade foi mais pronunciado em espécies raras de árvores tropicais.

A pesquisadora explica a hipótese proposta pelo grupo: “Há uma regulação mais rigorosa do tamanho populacional de algumas espécies nos trópicos, o que resulta em maior mortalidade e menor número de indivíduos, contribuindo para o padrão de raridade”. Esse efeito, por sua vez, contribui para a diversidade biológica das florestas tropicais em comparação com as florestas temperadas, onde apenas algumas espécies se tornam abundantes em determinado espaço.

“Isso acrescenta mais uma peça ao quebra-cabeça de entender por que os trópicos possuem uma maior diversidade de espécies”, destaca Melina Leite.

O entendimento dos mecanismos que impulsionam a maior diversidade nos trópicos é crucial no contexto da conservação das espécies e das florestas. A hipótese da estabilidade climática para os patógenos está diretamente relacionada ao aquecimento global, já que qualquer alteração nessa estabilidade pode afetar a diversidade das árvores.

“Compreender melhor esses mecanismos significa também ser capaz de prever as consequências das atividades humanas sobre as florestas”, enfatiza a ecologista. Por isso, o monitoramento em larga escala das florestas ao redor do mundo é de extrema importância.

O artigo “Latitudinal patterns in stabilizing density dependence of forest communities”, publicado na revista Nature, pode ser acessado pelo link: https://www.nature.com/articles/s41586-024-07118-4

Fonte: Jornal da USP

 


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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