Árvores param de respirar momentaneamente quando há fumaça de incêndios florestais

Um estudo recente revelou que algumas árvores basicamente “prendem” a respiração para evitar a absorção da fumaça de incêndios florestais. Veja como isso acontece.

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Algumas árvores “param de respirar” enquanto estão sendo afetadas pela fumaça de incêndios florestais. Crédito: Sergey Filinin/Shutterstock.

Quando há fumaça no ar, nós, seres humanos, tendemos a evitar inalá-la, segurando a respiração ou nos afastando. Mas o que acontece com as plantas que não podem se mover?

Pesquisadores da Universidade do Estado do Colorado investigaram essa questão, e suas descobertas foram publicadas recentemente na revista *Geophysical Research Letters*. Acompanhe abaixo.

Como as plantas “respiram”?

As plantas respiram por meio de estruturas chamadas estômatos, que são pequenos poros na superfície das folhas que se abrem e fecham. Enquanto os humanos inalam oxigênio e exalam dióxido de carbono (CO2) pelo nariz e pela boca, as plantas realizam trocas gasosas pelos estômatos. Durante a fotossíntese, elas absorvem CO2 e liberam oxigênio.

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Uma imagem bem ampliada de estômatos em uma folha de milho. Crédito: Umberto Salvagnin/Flickr.

As plantas também realizam esse processo de forma contínua, inalando e exalando simultaneamente, absorvendo e liberando gases ao seu redor.

Estratégia de defesa das árvores

O estudo analisou dados de um incêndio que ocorreu em 2020 em uma floresta de coníferas no estado do Colorado, onde vários pinheiros foram expostos à fumaça. Durante o incêndio, os pesquisadores notaram que o nível de fotossíntese dos pinheiros caiu para quase zero e os estômatos ficaram completamente fechados, como se as árvores tivessem parado de “respirar”.

Algumas plantas reagem à intensa fumaça de incêndios florestais fechando seus estômatos, interrompendo a troca de gases com o ambiente externo. Isso equivale a “prender a respiração” antes de serem expostas à fumaça.

Com os estômatos fechados, as folhas não “respiravam” — não inalavam o CO2 necessário para crescer e não exalavam os compostos químicos que normalmente liberam.

À esquerda, um dia claro no local do estudo (floresta de coníferas) no estado do Colorado, comparado ao dia enfumaçado quando as árvores responderam à má qualidade do ar parando de “respirar” (à direita). Crédito: Mj Riches.

Os pesquisadores decidiram então realizar um experimento: alteraram a temperatura e a umidade das folhas e limparam suas “vias aéreas”, tudo sem a presença de fumaça. Como resultado, o processo de fotossíntese foi retomado, com uma explosão de compostos orgânicos voláteis.

O que falta entender?

Apesar dessas descobertas, ainda não se sabe como as árvores conseguem realizar esse processo. Os pesquisadores levantaram algumas hipóteses: as partículas de fumaça poderiam obstruir os estômatos, impedindo sua abertura; pode ser uma resposta física das folhas aos primeiros sinais de fumaça; ou talvez a fumaça escura dificulte a absorção de luz solar, essencial para a fotossíntese.

Também não está claro quanto tempo esses efeitos da fumaça duram e como exposições repetidas à fumaça podem impactar as árvores a longo prazo. Mais estudos são necessários, incluindo análises com outras espécies de árvores.

Referência: Riches, M. et alWildfire Smoke Directly Changes Biogenic Volatile Organic Emissions and Photosynthesis of Ponderosa PinesGeophysical Research Letters, v. 51, n. 6, 20


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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