6 árvores da Mata Atlântica que resistem às mudanças climáticas e podem salvar nossas cidades

Estudo do Instituto de Pesquisas Ambientais de São Paulo aponta espécies nativas com alto potencial para arborização urbana frente ao estresse climático e à poluição

Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) de São Paulo identificou seis espécies de árvores mais tolerantes aos efeitos das mudanças climáticas. As plantas são encontradas na Mata Atlântica e possuem potencial para uso na arborização das cidades, desde que atinjam critérios como resistentes a patógenos urbanos e crescimento. No estudo, foram analisadas folhas de 29 espécies de áreas urbanas e periurbanas (zonas de transição entre a cidade e o campo). Camboatã (Cupania vernalis), Capixingui (Croton floribundus), Guamirim (Eugenia cerasiflora), Pessegueiro-bravo (Eugenia excelsa), Maria-mole (Guapira opposita) e Guamirim-ferro (Myrcia tijucensis) são as plantas com potencial de tolerância às mudanças climáticas e à poluição.

árvores resistentes às mudanças climáticas
Foto: Guapira opposita (Vell.) Reitz – NYCTAGINACEAE – Parque Estadual da Serra do Tabuleiro – Palhoça – Santa Catarina – Brasil / Marcia Stefani.

Cristiane Paula Gomes Calixto, professora do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências (IB) da USP, destaca que, além dos custos reduzidos no cuidado com as árvores em ambiente urbano, essa identificação tem mais benefícios. “Uma outra vantagem importante é a redução da temperatura e isso se dá por meio da sombra e da transpiração das folhas.” Ela lembra das condições de calor extremo e das ondas de altas temperaturas que se tornaram frequentes no País. O Brasil passou por três períodos de sensações térmicas extremas até maio de 2025. O Rio de Janeiro, por exemplo, apresentou em fevereiro mais de 40ºC nas medições.

Cidade versus floresta

Marcos Buckeridge, vice-diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) e professor do Instituto de Biociências, ambos da USP, demonstra que os cenários enfrentados pelas plantas em ambiente urbano e rural são diferentes. Segundo ele, para traçar a tolerância identificada pelo IPA é necessário levar em conta três tópicos: “Como é que ela responde ao alto gás carbônico, porque esse composto químico está aumentando e isso modifica o metabolismo da planta; como é a resposta ao aumento de temperatura e como a planta responde à falta de água”.

Cristiane explica que essa capacidade pode ser manifestada pelo ajuste do ciclo de vida vegetal para evitar períodos estressantes, como o verão e a manutenção das funções essenciais, mesmo nessas situações. “O estresse ambiental seria qualquer condição externa que prejudica o desenvolvimento normal de um organismo. Alguns exemplos nas plantas são o fechamento dos estômatos (aberturas que permitem as trocas gasosas), a produção de antioxidantes ou até mesmo alterações no crescimento.”

O que é Arborização Urbana?

A simulação e modelagem dos fatores de estresse, graças à inteligência artificial, é um passo inicial na pesquisa, segundo Buckeridge. “O efeito triplo é a realidade e a gente consegue ver que os resultados são diferentes. Mas, de qualquer maneira, vamos ter que fazer o experimento de fato para analisar”, declara.

A falta de competição nas cidades permite um desenvolvimento maior das árvores. Entretanto, o crescimento das raízes e os obstáculos físicos, como fios, muros e calçadas podem interferir na vida dessas espécies e dos outros organismos que residem em meio urbano. “Ela vai ter que crescer num ambiente geralmente bem poluído, com bastante material particulado, que não são substâncias que estão dentro da floresta”, expõe Buckeridge.

Áreas de conservação urbanas

Um dos objetivos do estudo realizado pelo IPA é trazer orientações de reflorestamento, com a escolha de espécies nativas ou “mais adequadas para a recuperação de áreas urbanas”. Cristiane Calixto destaca que a prática é possível por meio da renaturalização de zonas degradadas, criação de corredores verdes, restauração de matas ciliares e a implantação de bosques urbanos em terrenos baldios, parques ou encostas. Para a professora, é necessário planejamento paisagístico e parcerias entre governos, universidades e a comunidade para o sucesso da ação.

As áreas de preservação permanente urbanas são territórios frágeis, que contam com proteção legal e podem ser públicas ou privadas, cobertas ou não por vegetação nativa. A professora afirma que o conflito com atividades econômicas é um dos conflitos na delimitação desses espaços. “Tanto a pressão do crescimento urbano quanto a da agricultura urbana podem levar ao desmatamento. Outro obstáculo seria a falta de recursos financeiros e humanos para implementar e manter a gestão dessas áreas.” Além disso, a poluição dos corpos de água, o comprometimento da biodiversidade e a falta de conscientização podem enfraquecer a preservação.

Fonte: Jornal da USP


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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