Em 2023, tomei uma atitude: plantei árvores em uma calçada. Hoje, em 2025, elas estão assim. Ao todo, foram plantadas 23 árvores, todas nativas dos biomas Mata Atlântica e Cerrado, escolhidas de acordo com o ecossistema de entorno.
Espécies plantadas
- Ipê-roxo-de-bola (Handroanthus impetiginosus)
- Ipê-roxo-sete-folhas (Handroanthus heptaphyllus)
- Ipê-amarelo (Handroanthus chrysotrichus)
- Ipê-branco (Tabebuia roseoalba)
- Caroba (Jacaranda caroba)
Essas árvores, que eram apenas mudas com cerca de 1 metro quando plantei, hoje já alcançam até 4 metros de altura.
História
A calçada não era concretada — e ainda não é. Antes do plantio, era apenas terra batida, abandonada há mais de 20 anos, desde que a rua foi asfaltada. Nesse tempo, o espaço virou depósito de entulho, restos de obras e até lixo doméstico.Abaixo da calçada há uma queda de aproximadamente 3 metros, quase como uma segunda rua em nível inferior. O local possui um muro de arrimo em pedras e concreto, mas a prefeitura nunca instalou um parapeito de segurança. Antes das árvores, crianças já haviam caído da mureta enquanto brincavam.
Foi então que vi uma oportunidade: melhorar o espaço com árvores.
O resultado positivo é claro — as crianças pararam de subir na mureta. Mas, claro, surgiram também os problemas.
Problemas
Durante anos, ninguém se importou com a calçada. Mas bastou plantar árvores para que a história mudasse.
Primeiro, disseram que as raízes iriam estourar o asfalto. Depois, que o muro não resistiria. Em seguida, vieram as críticas de que, por serem “árvores de lei”, não poderiam ser cortadas depois. E, mais recentemente, alegam que a calçada não tem espaço para cadeirantes.
São questionamentos legítimos? Sim. Mas isso significa que estão certos? Não.
As espécies escolhidas têm comportamento excelente para calçadas — possuem raízes pivotantes, ou seja, crescem para baixo e não se espalham lateralmente. Mesmo que, no futuro, houvesse algum dano, isso levaria muitos anos — e, muitas vezes, o problema não é da árvore, mas da falta de manutenção das obras humanas.
Plantar uma árvore não tem prazo de validade. O ato de plantar vai além do simples gesto: é pensar nas consequências positivas da existência dela — sombra, ar puro, bem-estar e vida.
Por que plantar importa
As árvores oferecem sombra, ar fresco, redução de ruído e poluição, além de atraírem fauna — como abelhas nativas e aves —, mesmo que não produzam frutos atrativos. Servem de abrigo e ponto de apoio para voo e nidificação de aves, e embelezam o espaço com suas flores.
Esses são os chamados serviços ecossistêmicos — benefícios que as florestas e árvores nos proporcionam gratuitamente.
A cidade e o descaso
Essas árvores estão em Piedade do Rio Grande (MG) — uma cidade que, infelizmente, parece ver as árvores como inimigas.
As calçadas quase não têm arborização, e as poucas árvores existentes estão concentradas em uma praça, formadas por espécies exóticas invasoras, como Espatódea (Spathodea campanulata) e Sete-copas (Terminalia catappa).
Enquanto isso, as árvores nativas desaparecem, praças perdem sua vegetação e a cidade não tem uma sombra sequer para quem quer caminhar até o comércio local.
Plano Nacional de Arborização Urbana (PlaNAU): rumo a cidades mais verdes e sustentáveis
Nos arredores, o agronegócio avança com pecuária, soja e trigo, e a mineração se aproxima, ameaçando os campos naturais, rupestres e florestas estacionais.
Os córregos recebem esgoto sem tratamento, o agro aplica venenos em todo o entorno, mas o problema apontado é… as árvores de uma simples calçada.
Se o problema fosse acessibilidade, bastaria rever todas as calçadas do município, já que cada uma foi feita de um jeito. E se o problema for só essa calçada, a solução é simples: reduzir a largura do asfalto e criar um modelo de sustentabilidade urbana — não um ermo cinza e sem vida.
Não existe dia nem hora certa para começar algo.
As mudanças só acontecem quando tomamos atitude.
Se esperarmos pelos outros, nunca sairemos do lugar.
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