Estudos apontam que o crescimento da produtividade no setor agrícola brasileiro gira em torno de 3%. Dados do livro “Agropecuária Brasileira”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), indicam um valor médio de 3,3% desde 1975. No entanto, uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP sugere que a produtividade agrícola estaria em cerca de 1,96%, com o impacto ambiental sendo a principal causa desse resultado.
De acordo com Humberto Spolador, professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq e primeiro autor do estudo, “esse crescimento de 1,96% ao ano é significativo, uma taxa bastante considerável para ganho de produtividade”. Para efeito de comparação, a média mundial é de 1,12%, e em países como os Estados Unidos, é de 1,48%. O estudo, que também contou com a participação do pesquisador André Felipe Danelon, analisou dados de 510 microrregiões do Brasil em três anos diferentes: 1995, 2006 e 2017. A análise revelou que o crescimento da produtividade não é homogêneo entre as microrregiões e, até mesmo, entre os Estados.
O Índice de Produtividade Total dos Fatores (IPTF) foi dividido em quatro indicadores: eficiência técnica, progresso técnico, mix de escala e eficiência, e índice ambiental. Esses fatores atuam em conjunto, sendo que os três primeiros estão relacionados ao investimento em tecnologia e gestão, enquanto o índice ambiental está ligado a mudanças climáticas, como aumento de temperatura e chuvas. A pesquisa demonstrou que, embora o progresso técnico tenha contribuído para um aumento de 2,6% na produtividade, o índice ambiental causou uma queda de 0,75%.
Para Spolador, a decomposição do IPTF em diferentes indicadores foi crucial para identificar os determinantes da produtividade no setor e sua evolução. “Identificamos um efeito negativo do aumento das temperaturas e das mudanças climáticas sobre a produtividade do setor. Esse resultado reforça a importância de manter um processo contínuo de inovações tecnológicas aliado a práticas ambientais sustentáveis”, afirma o pesquisador. O estudo foi recentemente publicado na revista *Australian Journal of Agricultural Economics and Natural Resources*.
Os diferentes Estados e regiões do Brasil mostram relações distintas com os índices do IPTF. Regiões como Paraná, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Tocantins e Maranhão apresentaram índices ambientais elevados. Já em São Paulo, Espírito Santo, Alagoas e Santa Catarina, o IPTF é alto devido ao ambiente de produção, que já conta com a infraestrutura e tecnologia necessárias. Entre 1995 e 2017, Estados como Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás destacaram-se pelo crescimento do IPTF.
Além disso, a pesquisa revela que as mudanças climáticas, especialmente o aumento das temperaturas, podem representar um desafio para os agricultores, resultando em redução da produtividade. “Mostramos que existe um efeito que, apesar de estar fora do controle direto dos produtores, é um fator importante a ser considerado”, explica Spolador.
A análise dessa heterogeneidade é fundamental para que políticas públicas de desenvolvimento sejam mais direcionadas, considerando as peculiaridades de cada região, a fim de manter a produtividade e mitigar os impactos ambientais, beneficiando o setor agrícola e a economia brasileira.
O Núcleo de Estudos e Estratégias em Produtividade e Eficiência da Esalq (NEEPE-Esalq) está aplicando a metodologia da pesquisa em outros contextos. No site do grupo, há um estudo específico para o Estado de São Paulo, com informações detalhadas de mais de 600 municípios paulistas, abordando a produtividade entre 2015 e 2019 e focando no desenvolvimento regional.
Fonte: Jornal da USP
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