Ana Primavesi: Uma das pioneiras da Agroecologia no Brasil e na América Latina

Ana Primavesi sempre ensinou que é possível aliar a produção de alimentos à conservação do meio ambiente

Fonte da foto: Orgânicos Brasil. FOTO: LUIZ PRADO/LUZ
Desde o início, ela manteve uma relação de intimidade com a terra.
Talvez faça parte da herança da família de agricultores, no vilarejo de
St.Georgen Ob Judenburg, no sul da Áustria. E foi na capital daquele
país, Viena, que ela cursou Agronomia e casou-se com um colega de
profissão. Mas a forte ligação com a natureza fez a agrônoma Ana Maria
Primavesi ir na contramão das técnicas estabelecidas e procurar sempre
se guiar pelos sinais que o solo oferece. Na sua forma de
diagnosticá-lo, estão inclusas as práticas de cheirar a terra para saber
se a matéria orgânica foi enterrada profundamente e sentir entre as
mãos sua textura como indicativo do equilíbrio de nutrientes.
Por mais de 60 anos, a maior parte deles no Brasil, ela se aperfeiçoa
numa agronomia que, no seu modo de ver, ‘não compete com as leis da
natureza’. A doutora Ana Primavesi que preferiu excluir o Maria de seu
nome por uma recomendação da numerologia, pois ‘não dava um número bom’,
é considerada uma das pioneiras da agroecologia no país, ciência que
leva em conta o restabelecimento ou a conservação do solo permeável
protegido por uma vegetação diversificada. Numa tradução simplificada,
significa extrair dos recursos naturais as condições ideais para o
desenvolvimento das lavouras.  
Ao longo de sua vida, sempre buscou meios para o manejo do solo de forma
consciente, integrada com o meio ambiente, além de uma agricultura que
privilegiasse a atividade biológica do solo com um elevado teor de
matéria orgânica. Sempre defendeu a substituição de insumos químicos
pela aplicação de técnicas como a adubação verde, controle biológico de
pragas, entre outras. Uma de suas contribuições foi a compreensão do
solo como organismo vivo e possuindo diversos níveis de interação com a
planta. Segundo ela, as diversas doenças e pragas que cada vez mais
aparecem no mundo, tem relação com a agricultura convencional.
“A agricultura convencional é a arte de explorar solos mortos. (…)
as pessoas que comem agora estas colheitas, comem plantas doentes e
também se tornam doentes. Uma planta deficiente somente pode gerar um
homem deficiente e deficiência sempre significa doença. Por isso
precisa-se a cada ano mais leitos hospitalares. Doenças antes nunca
vistas aparecem, especialmente de vírus, como também nas plantas as
pragas e doenças aumentam ano por ano. Em 1970 existiam no Brasil 193
pragas. Atualmente ultrapassa 650. De onde vieram? Bactérias, fungos,
vírus e insetos que antes eram pacíficos e até benéficos agora se tornam
parasitas. Por que? Porque as plantas são doentes nos solos doentes. E o
solo é doente quando perde sua vida, sua porosidade, seu equilíbrio em
nutrientes”
(Ana Primavesi).  
No seu modo de entender, os métodos de cultivo da terra em 1945 eram
mais avançados se comparados aos dos dias de hoje, porque os homens não
tinham optado pela monocultura. ‘O plantio único nos trouxe uma
avalanche de doenças aplacadas por agrotóxicos’, afirma. E Ana Primavesi
aproveita para dar uma aula. ‘O adubo químico é basicamente formado por
três elementos e a planta necessita de 45’, diz. 
Ela publicou 94 artigos científicos no Brasil e em revistas
internacionais. Além disso, escreveu 11 livros e colaborou em inúmeras
outros publicações. Seu trabalho de maior influência é o seu livro “Manejo Ecológico do
Solo: a agricultura em regiões tropicais
” que revolucionou a agricultura ecológica tropical na América
Latina, arrisco-me a dizer que essa obra se apresenta como uma das bases para os conceitos de manejo e conservação de solos das ciências agrárias no Brasil. O livro postula que um solo saudável é o pré-requisito para plantas saudáveis, que por sua
vez, vão contribuir para a saúde dos homens. Neste livro ela salienta a
importância de restabelecer o equilíbrio entre o solo, organismos do
solo, plantas, animais e seres humanos. Além disso, a proteção da
estrutura dos pequenos agricultores, assim como o seu destino e sua
cultura foram sempre grandes preocupações de Ana Primavesi.
Foi co-fundadora de várias organizações como a AAO (Associação de Agricultura Orgânica) e do MAELA (Movimiento Agroecológico Latinoamericano).
Desempenhou um papel fundamental na construção da IFOAM na América
Latina. Ana é membro honorário de numerosos movimentos
ecológicos e já recebeu muitos prêmios, entre eles um prêmio do
Ministério da Agricultura brasileiro e o One World Award – o principal título de agricultura orgânica mundial. O prêmio do MAELA (Movimento Agroecológico de América Latina y Caribe), que é concedido
a cada dois anos tem seu nome – “Ana Primavesi Award”.
Acredito que podemos extrapolar seu pioneirismo agroecológico para além das fronteiras nacionais, com certeza Ana Primavesi foi uma das pioneiras em uma ciência que hoje é estudada e praticada em todo o mundo. Tive a oportunidade de assistir uma de suas palestras em um fórum de agroecologia em 2010, foi uma carga gigantesca de ensinamentos e exemplos que são de muita utilidade para meu entendimento do manejo sustentável do solo

.


Descubra mais sobre Florestal Brasil

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Comenta ai o que você achou disso...