Amazônia ganha novo sistema de vigilância

Sensor indiano corrige “miopia” do DETER,
usado para monitorar a floresta em tempo real; cerrado terá monitoramento
contínuo apenas a partir de 2018, sete anos depois do prometido.
A Amazônia acaba de ganhar um novo
sistema de monitoramento por satélite, que finalmente une as características
dos dois sistemas oficiais existentes: rapidez e alta resolução. Batizada DETER
B, a tecnologia permite acompanhar o ritmo da devastação em tempo quase real,
mas também possibilita enxergar desmatamentos pequenos, que hoje respondem pela
maior parte das derrubadas na floresta. Com isso, não será mais preciso esperar
um ano para saber qual é a taxa acumulada de perda de vegetação.
Hoje o país tem três sistemas de
monitoramento plenamente implantados, dois do governo e um do IMAZON (Instituto
do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). O PRODES, do INPE, dá a taxa oficial de
desmatamento uma vez por ano, medida de agosto a julho com resolução de 30
metros. Ele usa o satélite americano Landsat, que, no entanto, padece de uma
“síndrome de Barrichello”: suas imagens são demoradas de adquirir e de
processar.
O DETER, também do INPE, é usado para
gerar alertas de desmatamento que orientam a fiscalização do IBAMA. Ele se
utiliza de imagens do sensor Modis, embarcado nos satélites americanos Terra e
Aqua. O Modis tem passagens semanais sobre a Amazônia, o que lhe dá agilidade.
Mas é míope: não consegue enxergar nada com menos de 250 metros, portanto é
ruim para ver desmatamentos menores que 25 hectares – que têm virado o padrão.
O SAD (Sistema de Alertas de Desmatamento), do IMAZON, também usa imagens do
Modis, mas com um processamento diferente.
Essa miopia torna o DETER impróprio para
fazer cálculo de área desmatada – embora desde 2005 o governo faça uso político
do sistema, para gerar estimativas de taxa anual sempre que o desmatamento está
em queda. Com a pulverização do corte raso em áreas pequenas, tem sido cada vez
mais difícil prever a taxa anual do PRODES apenas acompanhando o DETER.
Com o DETER B, esse problema acabou. O
segredo é que o novo sistema usa dois novos sensores, de 56 metros e 64 metros
de resolução, embarcados respectivamente no satélite indiano ResourceSat-2 e no
sino-brasileiro CBERS-4. As espaçonaves dão ao INPE duas imagens por semana de
cada local monitorado, com resolução que ainda não é a mesma do Landsat, mas
que avança significativamente em relação ao Modis. 
Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil
Fonte: Google imagens
“A correspondência com o PRODES é
praticamente de um para um”, disse ao OC Dalton Valeriano, coordenador de
Observação da Terra do INPE e responsável pela montagem do Deter B. “O DETER A
só permitia falar de alertas, agora dá para falar em desmatamentos”, disse
Valeriano durante a apresentação do sistema, nesta quinta-feira, no Ministério
do Meio Ambiente.
Após a apresentação de Valeriano, a
ministra Izabella Teixeira anunciou o primeiro dado do DETER B: entre agosto do
ano passado e abril deste ano, foram perdidos 3.613 quilômetros quadrados de
floresta, ou 2.200 quilômetros quadrados a menos do que em todo o ano anterior.
“Não é trivial ter esse dado”, disse a ministra. “Temos um novo patamar de instrumentos
de gestão.”
Segundo Amintas Brandão, do IMAZON, o
dado ainda não permite dizer se a taxa será maior ou menor do que a do ano
passado, já que maio, junho e julho são meses fortes de derrubada. Um problema
no satélite indiano impediu que os dados de agosto a abril do ano anterior
fossem compilados pelo DETER B para comparação.
CERRADO
Também na quinta-feira foi anunciada a
estratégia de monitoramento de todos os biomas brasileiros, que o governo
promete desde 2009. “A cobrança será intensa e contínua enquanto não
demonstrarmos capacidade de olhar o país como um todo”, disse Thelma Krug,
diretora de políticas contra o desmatamento do Ministério do Meio Ambiente.
O cerrado, principal bioma ameaçado pelo
desmatamento hoje, terá seu próprio PRODES a partir de 2016, e monitoramento
contínuo, como o do DETER, a partir de 2018. Em 2010, ainda no governo Lula, o
DETER do cerrado havia sido prometido para 2011. O monitoramento de todos os
biomas deve funcionar a partir de 2018. Já este ano, porém, a plataforma MapBiomas, do Observatório do Clima,
deverá permitir olhar as mudanças de cobertura florestal de todos os biomas do
país.


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