Amazônia abriga 55 milhões de árvores gigantes com mais de 60 metros de altura

Mapeamento inédito mostra que a maioria dessas árvores está concentrada em apenas 1% da floresta, com destaque para Roraima e o Escudo das Guianas.

As árvores gigantes da Amazônia acabam de ganhar um retrato inédito: um estudo publicado na revista New Phytologist revelou que existem cerca de 55 milhões de árvores com mais de 60 metros de altura espalhadas pela floresta.

árvores gigantes da Amazônia

Utilizando tecnologia LiDAR aérea, os cientistas mapearam 900 áreas da Amazônia brasileira e descobriram que a maior parte desses gigantes está concentrada em apenas 1% da floresta, especialmente nas províncias biogeográficas de Roraima e do Escudo das Guianas — regiões de clima estável, solos argilosos e baixa incidência de ventos e raios.

O levantamento foi coordenado pelo engenheiro florestal Robson Borges de Lima, da Universidade do Estado do Amapá (UEAP), e é considerado o estudo mais abrangente já realizado sobre a estrutura vertical da floresta amazônica.

“Essas árvores são verdadeiros pilares ecológicos. Elas regulam o microclima, armazenam grandes quantidades de carbono e garantem a resiliência da floresta”, explica Lima.

Gigantes que sustentam o clima e a vida

As árvores gigantes da Amazônia são organismos monumentais, comparáveis a arranha-céus naturais. Espécies como o angelim-vermelho (Dinizia excelsa) — que atinge 88,5 metros de altura, recorde registrado na América do Sul —, o ipê, o jatobá, o angelim-pedra e a castanheira-do-pará figuram entre as mais imponentes.

árvores gigantes da Amazônia
Amazônia abriga atualmente 55 milhões de árvores gigantes, revela pesquisa. Foto: Ueap/Divulgação

Essas árvores podem viver mais de quatro séculos, acumulando em seus troncos e raízes enormes quantidades de carbono e sustentando complexas cadeias ecológicas. Elas funcionam como torres biológicas que captam luz acima do dossel, criam microclimas e servem de habitat para inúmeras espécies de aves, insetos e mamíferos.

O estudo alerta, porém, que essas árvores estão sendo perdidas mais rápido do que conseguem se regenerar. A combinação de desmatamento, queimadas, secas intensas e tempestades ameaça diretamente sua sobrevivência.

“A perda de uma árvore gigante é o colapso de um ecossistema local. Elas levam séculos para crescer e apenas minutos para tombar”, afirma Lima.

LiDAR: tecnologia que enxerga o topo da floresta

Para identificar onde vivem essas gigantes, os pesquisadores usaram sensoriamento remoto LiDAR (Light Detection and Ranging), uma tecnologia que emite pulsos de laser a partir de aeronaves e cria modelos tridimensionais de alta precisão da floresta.

Os dados foram coletados entre 2016 e 2018, no âmbito do projeto Biomass Estimation in the Amazon (EBA), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e parceiros internacionais.

Cada voo cobriu 3,75 km², resultando em uma amostragem 100 vezes superior à dos inventários tradicionais em solo.

Os cientistas combinaram esses dados com informações sobre chuvas, temperatura, relevo e solo para treinar um modelo de inteligência artificial (Random Forest), capaz de estimar a densidade de árvores com mais de 60 metros em toda a Amazônia brasileira.

Onde estão as maiores árvores da Amazônia

Os resultados revelam uma Amazônia com “ilhas de gigantes”:

As maiores concentrações ocorrem nas florestas de terra firme do norte do bioma, entre Roraima e o Escudo das Guianas, onde a densidade chega a 120 árvores gigantes por quilômetro quadrado.

Essas regiões apresentam baixa incidência de ventos fortes e descargas elétricas, além de altos índices de umidade e solos ricos em argila — condições ideais para o crescimento de árvores colossais.

Já o Arco do Desmatamento, que abrange o sudeste do Amazonas, o Pará e Rondônia, apresenta densidades próximas de zero, refletindo décadas de degradação florestal e fragmentação dos ecossistemas.

Os fatores que moldam os gigantes da floresta

O estudo identificou quatro variáveis ambientais principais associadas à ocorrência das árvores mais altas da Amazônia:

  1. Precipitação anual média – a disponibilidade de água é determinante para o crescimento vertical;

  2. Temperatura média anual – temperaturas moderadas favorecem o equilíbrio fisiológico;

  3. Velocidade do vento – ventos fortes e tempestades limitam a estabilidade das copas;

  4. Teor de argila no solo – solos argilosos retêm umidade e nutrientes por mais tempo.

Esses fatores explicam por que as árvores gigantes da Amazônia se concentram em pequenas porções do bioma, em contraste com vastas áreas dominadas por florestas mais baixas e vulneráveis.

Árvores gigantes e o estoque de carbono da floresta

Entre os achados mais relevantes, os cientistas confirmaram uma forte correlação entre a densidade de árvores gigantes e o estoque de carbono acima do solo (AGB).

árvores gigantes da Amazônia
Maior árvore da Amazônia está localizada na fronteira do Amapá e do Pará — Foto: Rafael Aleixo/Setec

As áreas com maior número de árvores acima de 60 metros apresentam os maiores índices de biomassa, funcionando como verdadeiros sumidouros de carbono.
Mesmo representando menos de 0,001% das árvores amazônicas, esses gigantes são responsáveis por uma fração desproporcional do carbono total armazenado.

Estudos citados pelo trabalho indicam que 1% das árvores tropicais concentram até 50% do carbono da floresta — o que significa que a derrubada de uma única árvore de 70 metros pode liberar toneladas de CO₂ para a atmosfera.

“As árvores gigantes são o coração do sistema de carbono tropical. Sua conservação é essencial para mitigar as mudanças climáticas”, reforça Lima.

O futuro dos gigantes: aquecimento e destruição

Os autores alertam que as mudanças climáticas podem redefinir o mapa das árvores gigantes.
Modelos do IPCC apontam aumento médio de 1,5 °C até 2050, o que tende a intensificar ventos, tempestades e descargas elétricas — exatamente os fatores que mais ameaçam as árvores mais altas.

Combinados ao avanço da fronteira agrícola e à expansão da infraestrutura, esses fenômenos podem reduzir drasticamente a densidade das árvores gigantes em poucas décadas.

Além de sua função ecológica, essas árvores têm valor cultural e simbólico.
Muitas são consideradas espíritos guardiões da floresta por povos indígenas e comunidades tradicionais.
Sua perda representa não apenas um impacto ambiental, mas também um golpe cultural e espiritual para a Amazônia.

Ciência e conservação: um chamado à ação

O estudo defende que a densidade de árvores altas seja incorporada aos modelos de biomassa e às políticas públicas de conservação, incluindo programas internacionais como o REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal).

Os autores também recomendam a expansão do monitoramento remoto e o investimento em ciência e tecnologia voltados ao manejo sustentável e à proteção das florestas primárias.

“Proteger os gigantes da Amazônia é proteger o coração do clima da Terra”, conclui Robson Borges de Lima.

Fonte:

Mapping the density of giant trees in the Amazon — Robson Borges de Lima et al., New Phytologist (2025).

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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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