Alertas de desmatamento caem 40% na Amazônia porém, crescem no Cerrado
Os alertas de desmatamento entre janeiro e abril caíram 41% na Amazônia e subiram 14,5% no Cerrado, na comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados são do sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Na floresta amazônica, a área perdida neste ano foi de 1,132,45 mil km2. O número representa queda em relação a 2022, mas está no mesmo patamar de 2021 e 2020. Os números foram divulgados ontem (5).
Já no Cerrado os alertas acumulados em 2023 foram os maiores dos últimos cinco anos, segundo o Deter, e totalizaram 1,88 mil km². Considerando apenas o mês de abril, houve aumento anual de 31%.
O governo Lula (PT) enfrenta dificuldades para frear o desmatamento. Ambientalistas já previam que a “herança maldita” de Jair Bolsonaro (PL) no setor seria um entrave à promessa de “desmatamento zero” do petista.
Entre os pontos onde a destruição se concentra, estão a fronteira entre Amazonas, Acre e Rondônia e a região conhecida como Matopiba, que abrange parte do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
É cedo para falar em tendência de queda
Celso Silva-Junior, professor da pós-graduação em Biodiversidade e Conservação na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), diz que a redução do desmatamento é algo a se comemorar, mas não necessariamente deve gerar otimismo.
“É precoce afirmar que nós tenhamos o início de uma tendência de redução significativa dos alertas de desmatamento na Amazônia, porque o período é muito curto para levar em consideração. Mas pode ser um resultado da mudança do governo Lula, com a retomada das ações de combate ao desmatamento”, explica Silva-Junior.
A WWF-Brasil concorda que ainda é cedo para supor que os índices vão continuar a cair na floresta amazônica.
“Recebemos os números de abril como sinal positivo, mas infelizmente ainda não podemos falar em tendência de queda de desmatamento na Amazônia. Os números estão num patamar muito alto e a temporada da seca, favorável ao desmatamento, não começou”, declarou Mariana Napolitano, gerente de Conservação do WWF-Brasil.
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Ministério vai investigar autorizações dos estados
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima diz que vai fazer uma “rigorosa apuração dos alertas” com objetivo de verificar se os desmatamentos foram autorizados pelos estados.
“O MMA determinou, ainda, a verificação das bases legais das autorizações emitidas, bem como a ação imediata do Ibama no sentido de autuar e embargar as áreas desmatadas sem autorização”, disse a pasta.
O professor da UFMA também acredita que o problema pode estar nos estados e cita como exemplo o Maranhão, o campeão de desmatamento no Cerrado.
“Há uma grande contribuição do desmatamento legal, aquele que é autorizado pelo governo estadual através da secretaria de meio ambiente, principalmente para dar lugar à monocultura de soja e outros grãos. Os governos estaduais têm falhado também”, pontuou Silva-Junior.
Mas a negligência com o Cerrado é histórica. O professor diz que o bioma sempre foi negligenciado pelos governos federais. “Não só no atual governo, como nos que vieram antes, o Cerrado sempre teve tendência de aumento do desmatamento, mesmo enquanto os índices caíam na Amazônia”, lembra.
Dimensão real da devastação está além dos números, diz Observatório
Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) e fundador do Observatório da Governança Ambiental do Brasil (OGAM), afirma que é preciso compreender o desmatamento para além da “simples conta mês a mês”.
“Os números não retratam mais a mesma realidade de anos atrás, pois hoje um desmatamento de 1.000 km² é muito mais prejudicial do que era, por exemplo, há 2 anos, considerando os pontos de inflexão que vem atingindo a floresta e os avanços da mudança climática”, explica Bocuhy.
Ele lembra que o cerrado paulista tende a se desertificar em menos de 20 anos diante do atual ritmo da mudança climática.
“É preciso proceder imediatamente a uma avaliação ecossistêmica sobre os biomas Amazônia e Cerrado. Revitalizar esses ecossistemas e agir para fortalecer as condições vitais deles. E não apenas contabilizar oscilações em sua perda”, afirma o fundador do OGAM.
Texto original em: Brasil de Fato
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