AIE alerta para alta demanda por petróleo e risco de aquecimento acima de 2,5°C na COP30

Novo relatório da Agência Internacional de Energia projeta crescimento contínuo do petróleo e risco de superaquecimento global, contrariando metas climáticas da COP30.

Enquanto delegações do mundo inteiro negociam, em Belém, caminhos para acelerar a transição energética, a Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou nesta quarta-feira (12) um relatório que esfriou os ânimos dos mais otimistas. O documento projeta que a demanda por petróleo continuará crescendo nas próximas décadas e que o planeta pode caminhar para um aumento de temperatura muito acima das metas definidas pelo Acordo de Paris.

aquecimento global COP30
Sonda de perfuração de poços de petróleo na Baía de Guanabara, em Niterói (RJ). – Eduardo Anizelli/Folhapress

Segundo o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol, o ritmo atual da transição energética está longe do necessário para frear a crise climática.

“Os sinais de avanço não estão acompanhando a velocidade exigida pelo clima.”

Mesmo com investimentos crescentes em renováveis, Birol alerta que a combinação entre expansão econômica global, políticas públicas insuficientes e pressões de segurança energética ainda mantém petróleo e gás no centro da matriz mundial.

Demanda em alta: 113 milhões de barris por dia em 2050

O relatório prevê que, mantidas as políticas atuais, a demanda por petróleo deve atingir 113 milhões de barris por dia em 2050, um aumento de 13% em relação a 2024. A expansão seria puxada sobretudo por economias emergentes, onde o consumo energético cresce junto com a urbanização e a industrialização.

A projeção marca uma mudança importante dentro da própria AIE, que em relatórios anteriores previa um pico da produção antes de 2035. Agora, o auge só ocorreria caso países adotem políticas climáticas muito mais rigorosas — o que ainda não está no horizonte.

A posição da agência foi imediatamente comemorada pela Opep, que descreveu o relatório como um “retorno à realidade”, após anos criticando o que considerava projeções excessivamente otimistas sobre o fim dos combustíveis fósseis.

África trava negociações da Meta Global de Adaptação na COP30 e pressiona prioridade do Brasil

COP30: cenário político complicado para discutir “transição para fora dos fósseis”

No contexto da COP30, a divulgação do relatório adiciona tensão às discussões. O Brasil, como anfitrião, pretende avançar nos critérios para operacionalizar a decisão da COP28, em Dubai, que estabeleceu a transição para fora dos combustíveis fósseis.

Mas dois fatores limitam o avanço:

  • A ausência dos Estados Unidos, maiores produtores de petróleo do mundo.

  • A resistência de delegações africanas, que argumentam que a transição não pode desconsiderar desigualdades históricas, falta de acesso à energia e necessidades de desenvolvimento.

Nesse cenário, o novo relatório serve tanto de alerta quanto de munição para países produtores de petróleo que defendem uma transição mais lenta.

Inteligência artificial, segurança energética e o peso das novas tecnologias

A AIE também destaca que tendências recentes reforçam a dependência global de energia fóssil. A preocupação com segurança energética, a pressão por crescimento econômico e o avanço de tecnologias intensivas em energia — como inteligência artificial, computação em nuvem e data centers — tornam o processo de transição mais lento.

Além disso, a agência reforça argumentos usados pela própria indústria nos últimos anos: a necessidade de ampliar a oferta energética para populações que ainda não têm acesso confiável à eletricidade, especialmente na África e no sul global.

2,5°C a 3°C: a rota atual empurra o planeta para aquecimento extremo

O relatório apresenta três cenários centrais:

  • Políticas atuais: aquecimento de cerca de 3°C até 2100.

  • Políticas anunciadas, mas não implementadas: ~2,5°C.

  • Neutralidade climática até 2050: mesmo assim, o limite de 1,5°C seria temporariamente ultrapassado nas próximas décadas, com retorno apenas depois de 2100 — e dependente de tecnologias de remoção de carbono em larga escala, que ainda não existem.

A conclusão é dura:

“A janela para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C está se fechando rapidamente.”

Sem políticas mais robustas e investimentos massivos em energia limpa, o mundo corre o risco de manter-se preso a uma matriz de alto carbono por mais uma geração.

O enredo político: Opep celebra, ativistas alertam

A Opep, que reúne os principais exportadores de petróleo do mundo, celebrou publicamente o que chama de mudança de postura da AIE. Em nota, a organização afirmou que o relatório reconhece que petróleo e gás continuarão centrais na economia global por décadas — percepção alinhada aos interesses do grupo.

Ativistas e especialistas em clima, por outro lado, veem o cenário com preocupação. A continuidade da expansão dos combustíveis fósseis coloca em risco:

  • metas climáticas internacionais,

  • a segurança global,

  • a resiliência de populações vulneráveis,

  • e o próprio legado da COP30, que busca fortalecer compromissos de adaptação e mitigação.

O que esperar daqui para frente?

O relatório da AIE chega em um momento delicado e tem potencial para influenciar diretamente:

  • as negociações sobre a transição energética,

  • os debates sobre financiamento climático,

  • e a discussão sobre responsabilidade histórica e justiça climática.

Enquanto os líderes globais discutem em Belém o futuro da matriz energética mundial, o novo diagnóstico traz um recado claro: sem políticas muito mais ambiciosas, o mundo seguirá dependente do petróleo — e cada vez mais distante das metas climáticas.


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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