A agricultura urbana consiste no cultivo de alimentos em pequena escala nas áreas urbanas e periurbanas das cidades. Diferente da agricultura tradicional, esse tipo de produção é voltado principalmente para o consumo próprio dos agricultores. Essa distinção reflete-se em aspectos como a menor disponibilidade de conhecimento técnico, a dificuldade de dedicação exclusiva à atividade e a diversidade de culturas cultivadas. Outro diferencial importante é o lucro: enquanto a agricultura tradicional busca o mercado, a urbana prioriza o uso pessoal, sendo o excedente vendido quando disponível.
Essa prática, frequentemente associada à subsistência, pode desempenhar um papel fundamental na segurança alimentar e financeira da população. O engenheiro agrônomo José Walter Figueiredo Silva destaca que “o impacto da agricultura urbana em comunidades mais humildes é enorme, pois, além de garantirem o próprio sustento, podem vender o excedente, inclusive para as prefeituras, que utilizam esses alimentos na merenda escolar”. Segundo ele, o contato das crianças com esses alimentos frescos “cria o hábito e ensina o consumo de verduras e legumes desde cedo”.
Além dos benefícios econômicos, a agricultura urbana também promove impactos sociais significativos. O biólogo e professor Rodrigo Augusto Santinelo Pereira, da USP, ressalta que o cultivo de hortas urbanas pode contribuir para o bem-estar da comunidade, sendo associado a atividades recreativas e paisagísticas. “Essas hortas ajudam a melhorar a estética do ambiente, além de promover a troca de plantas, sejam elas alimentares ou ornamentais”, afirma o professor.
Embora seja uma prática antiga, a agricultura urbana também recebe incentivo do governo federal, por meio do Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana, ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. O programa busca fomentar atividades agrícolas e pequenas criações em áreas urbanas, promovendo a conscientização sobre temas como agricultura sustentável e combate à insegurança alimentar.
Contudo, José Walter Figueiredo Silva observa que o programa ainda está em fase inicial de implementação. “Ele será implantado aos poucos, pois envolve questões financeiras, e apenas alguns municípios já entenderam sua importância”, explica. Ele ainda sugere que o plano poderia ser mais ambicioso, citando como exemplo o Programa Município VerdeAzul, do Estado de São Paulo, que desde 2007 incentiva o desenvolvimento de hortas e outras iniciativas ambientais nos municípios paulistas.
Meio ambiente
Além dos benefícios alimentares e econômicos, a agricultura urbana também exerce influência positiva sobre a qualidade do ar, da água e na redução das temperaturas nas cidades, ajudando a mitigar as ilhas de calor. De acordo com o professor Rodrigo Augusto Santinelo Pereira, “a transpiração das plantas contribui para o aumento da umidade relativa do ar, o que melhora o conforto térmico no ambiente urbano”. Ele também destaca que as plantas atuam como filtros naturais, “retendo partículas sólidas presentes no ar, como poeira e outros contaminantes”.
Outro impacto importante, segundo Pereira, é a capacidade das plantações de reduzir o escoamento das águas da chuva. “Isso diminui a quantidade de contaminantes que seriam levados para córregos e rios próximos, que, muitas vezes, são utilizados para o abastecimento de água das cidades”, explica o professor.
O engenheiro agrônomo José Walter Figueiredo Silva acrescenta que a agricultura urbana promove a biodiversidade, criando áreas de conectividade para insetos e pequenos animais nas zonas urbanas. “As abelhas, por exemplo, são beneficiadas, assim como a microfauna de bactérias e fungos, que desempenham um papel fundamental na compostagem e na adubação das plantações”, observa Silva.
Nesse contexto, Pereira destaca que as plantações urbanas trazem uma série de benefícios muitas vezes ignorados pela população. Ele menciona, por exemplo, “a presença de insetos polinizadores e inimigos naturais que controlam pragas agrícolas”. Além disso, nas áreas cultivadas surgem organismos e microrganismos sem benefício direto para os humanos, mas essenciais para o equilíbrio ecológico, como minhocas e outros invertebrados que contribuem para a saúde do solo.
Educação ambiental
Outro aspecto destacado pelos especialistas é a importância da educação ambiental. Para o professor Rodrigo Augusto Santinelo Pereira, “essas atividades de plantio proporcionam um maior entendimento do ambiente, da relevância dos seres vivos e das interações ecológicas para as pessoas”. Ele ressalta que essa educação ambiental “pode ser promovida em ambientes não formais, como nas áreas de produção, hortas comunitárias e viveiros de mudas”. Segundo Pereira, as pessoas envolvidas diretamente nessas atividades se beneficiam significativamente, mas ele também defende que a educação ambiental pode ser estruturada de maneira mais formal, integrando escolas e comunidades.
Em Ribeirão Preto, por exemplo, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), há 29 hortas urbanas em escolas municipais, mantidas com recursos da Secretaria e das Associações de Pais e Mestres (APM).
Outro exemplo local é o projeto socioambiental da Secretaria de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Saerp), em parceria com a Associação Instituto Terroá. O projeto, chamado Espaço Educador Agroecológico Guandu, é uma horta comunitária situada na Rua João Delibo com a Rua Ernesto Peterson, ao lado da Escola Municipal de Ensino Fundamental Moacir Firmino, no bairro Quintino Facci II.
Fonte: Jornal da USP
Descubra mais sobre Florestal Brasil
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.