Afinal as queimadas foram responsáveis pela noite às 15h em São Paulo?

Combinação entre frente fria e fumaça do Pantanal trazida por fortes ventos escureceram o céu paulista; o número de focos de queimadas no Brasil é o mais alto em cinco anos 
 
O dia que virou noite na última segunda feira (19) intrigou os cidadãos de São Paulo. Por volta das 15h, o céu escureceu e assustou moradores. 
Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO CONTEÚDO
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Foto: Tangaraemfoco
Os paulistas tiveram seu dia de rondoniense”. Assim Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo, resume a segunda-feira, dia 19, marcada, para os moradores de diversas partes do Estado de São Paulo, inclusive a capital, por um céu amarelado e repleto de nuvens. Institutos meteorológicos apontam que o fenômeno é causado por uma combinação da chegada de nuvens bem carregadas advindas de uma forte frente fria litorânea e de ventos com partículas de queimadas que estariam vindo da região do Pantanal.

Em 2019, os registros de queimadas no Brasil aumentaram 82%, se comparadas a um ano atrás. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), esta é a maior alta dos últimos sete anos e diversas regiões do Brasil sofreram com o desmatamento da Amazônia.

Os incêndios acontecem principalmente nos Estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, alcançando a fronteira do Brasil com a Bolívia e o Paraguai. O corredor de fumaça proveniente das queimadas na Amazônia vem descendo pela América do Sul desde a semana passada.


Somado a isso, Além disso, a cidade de São Paulo se encontra dentro de uma nuvem por conta da convergência de massas diferentes: a frente fria da capital, junto com as temperaturas amenas que vêm do oceano e do vento quente do interior. Nos últimos dois dias, o Brasil teve 5.253 focos de queimadas detectados pelo sistema do Inpe. Bolívia, Peru e Paraguai seguem com 1.618, 1.166 e 465, respectivamente. Os índices altos não ultrapassam os do ano de 2016, quando ocorreu 66.622 focos de queimadas entre essas mesmas datas.

O site windy.com apresenta um mapa interativo com imagens obtidas de satélites e sensores que detéctam entre diversos parâmetros a presença de Monóxido de carbono (CO) na atmosfera. Como é possível observar no mapa abaixo, a concentração de CO na região de Roraima e Mato Grosso é bem expressiva em relação aos demais estados do Brasil. Confira no mapa interativo abaixo:




Queimada dura 15 dias

No último fim de semana (18) ocorreu em Rondônia um grande incêndio na Reserva Ambiental Margarida Alves. A queimada durou 15 dias, tornando o ar denso e dificultando a respiração. Especialistas alertaram sobre o perigo do crescente desmatamento da Amazônia, apesar do presidente Jair Bolsonaro ter acusado os dados do INPE (Institutos de Pesquisas Especiais) de mentirosos. 

Foto: Rede Amazônica/Reprodução

O então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, havia indicado que 6,8 mil km² poderiam estar sob desmate, e esse número se confirmou pelos balanços anuais feitos também pelo Inpe. Em comparação, de agosto de 2017 a julho de 2018, os alertas mostraram um desmate em 4,5 mil km². Em agosto, o número também cresceu de acordo com o MetSul:

A taxa oficial para 2019 ficou em 7,5 mil km², sendo um aumento de 64,8%, em uma tendência de desmate crescente com o passar dos anos. Ricardo Galvão foi excomungado de seu cargo no INPE.

Divergências

A grande polêmica que envolve esse assunto é a falta de um denominador comum entre os especialistas no assunto. Diversos especialistas, jornalistas, formadores de opnião, e até mesmo o presidente Jair Bolsonaro divergem quanto a veracidade dos dados e fatos observados.

Segundo Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo, nos últimos dias, foi possível observar através de satélites grandes incêndios ocorrendo nos Estados do Acre e Rondônia e nos países vizinhos Bolívia e Paraguai. 

“No fim da semana passada, principalmente na sexta-feira (16), dava pra ver nitidamente uma pluma de fumaça descendo em direção ao Sul do Brasil. O fluxo dos ventos virou de tal forma que trouxe a fumaça, mas isso não estava previsto”, explicou por telefone à BBC News Brasil.

Segundo a meteorologista, no fim de semana, a fumaça chegou ao Rio Grande do Sul, subindo depois para o Paraná e Mato Grosso do Sul e, então, São Paulo. Já Marcelo Seluchi, meteorologista no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), é cauteloso ao precisar a origem da fumaça que chegou ao território paulista – ele destaca que há focos por “toda parte” do país, inclusive da própria São Paulo, apesar de concordar que as partículas que visitaram o Estado devem ter vindo do interior do país e de países vizinhos.

“Muito provavelmente teve a influência também do fenômeno da inversão térmica, bem típico em São Paulo e nessa época do ano. É como ter uma panela com água fervendo e colocar uma tampa: fica tudo retido embaixo dela. Se você tem fumaça, ela não se dispersa para o alto, mas fica confinada em uma camada de 2 km, a parte mais baixa da atmosfera”.

A nebulosidade, causa da “noite” precoce no Estado do Sudeste, foi por sua vez resultado da combinação de uma massa de ar polar com ventos úmidos vindos do mar.

“A escuridão tem mais a ver com o tipo de nuvens, muito baixas e pesadas, e com o final da tarde, já que nessa época do ano anoitece mais cedo”, explica Seluchi.

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Lucas Monteiro

Engenheiro Florestal com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Perícia e Auditoria ambiental . Formação de Auditor nos sistemas ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001 e FSC® (FM/COC). Experiência em Due Diligence Florestal, mitigação de riscos ambientais e Cadeia de suprimentos da Madeira para mercados internacionais (EUDR e Lacey Act).

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